Título: Deputados trocam ofensas e líder do PTB desmente Jefferson
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2005, Política, p. A6

Se o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) já colecionava desafetos políticos desde a época em que integrava a chamada tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor de Mello, ontem ele aumentou consideravelmente a lista de inimigos. Durante as oito horas e meia de duração da reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o presidente nacional do PTB acusou sem rodeios dirigentes e líderes do PL, PP e PT. "Não sou melhor que ninguém. Sou igual. Posso ser igual, mas não sou pior. Nunca fiz o discurso do vestal", disse ele, ironizando com sutileza o discurso ético de dirigentes e parlamentares do PT e outras legendas. As acusações de Jefferson provocaram uma reação irada de alguns parlamentares durante a sessão, sobretudo do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e do líder Sandro Mabel (PL-GO). Houve bate-boca de ambos com Roberto Jefferson, que reagiu sarcasticamente, sem sequer alterar o tom de voz. O PL é autor da representação no Conselho de Ética em que pede abertura de processo de cassação de Jefferson por quebra de decoro parlamentar. O presidente do PTB abriu seu depoimento agradecendo a Valdemar Costa Neto a oportunidade que lhe foi dada de "falar ao Brasil". Jefferson recusou-se a citar os nomes de deputados que supostamente recebem o mensalão. "Eu não vou dizer o nome deles aqui", enfatizou, quando pressionado por Costa Neto. "Eu queria que ele desse os nomes dos deputados", retrucou o presidente do PL. "Eu quero saber é se ele (Costa Neto) dá o nome daqueles para quem paga", emendou Roberto Jefferson. "Eu afirmou que Vossa Excelência recebe os repasses", acrescentou o presidente do PTB, deixando os parlamentares ainda mais perplexos e constrangidos. Ambos partiram em seguida para troca de insultos pessoais. O líder do PTB, José Múcio (PE), também citado por Jefferson como um parlamentar que tomou conhecimento dos boatos sobre o mensalão, foi forçado a se manifestar. Costa Neto leu na sessão uma entrevista de Múcio a um jornal de Pernambuco em que ele negava ter tomado conhecimento do mensalão e afirmava que o colega, Roberto Jefferson, devia ter se confundido. Múcio explicou que em outubro de 2004 foi procurado pelo tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares. O petista lhe pediu que intermediasse um contato com Jefferson, porque ele era um "homem de difícil acesso". "Procurei o Roberto e disse que não custava nada recebê-lo", contou o líder. Segundo José Múcio, dirigentes e parlamentares do PTB, PL e PP participaram de várias reuniões para discutir a reforma política. Os partidos, em conjunto, são contra vários aspectos da reforma, como o financiamento público de campanhas eleitorais. Múcio disse que nunca tratou de mensalão com Costa Neto. A reação mais nervosa foi de Sandro Mabel. De pé, aos gritos, o líder do PL acusou Jefferson de fazer um teatro. Lembrou que em setembro de 2004 o PTB negava oficialmente ter fechado um acordo com o PT para financiamento de campanha - denúncia que Jefferson ontem confirmou em detalhes. Mabel insinuou que o PTB passou a votar contra o governo por não receber o mensalão. "Estou achando que estava todo mundo no mensalão, né? Ou então ninguém tinha mensalão ? , disse. O líder do PL disse que Jefferson procurou o PL para propor um acordo ao partido no Conselho de Ética. Costa Neto deu, ao final da sessão, mais detalhes. Afirmou que um deputado do PTB - que não mencionou o nome - o procurou na terça-feira passada oferecendo uma carta na qual Roberto Jefferson revisaria a entrevista concedida à "Folha de S.Paulo" e livraria o PL de denúncias. Em troca, partido retiraria a representação no Conselho de Ética. O PL recusou o acordo. (Colaborou Henrique Gomes Batista)