Título: "Vamos responder tudo"
Autor: Branco, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 12/04/2010, Política, p. 5

Entrevista - Marcelo Branco

Aliado dos americanos responsáveis pela campanha de Obama, brasileiro que integra equipe de Dilma fala sobre política na internet

Tiago Falqueiro

Para aproveitar as novas regras eleitorais que permitem o uso da internet na campanha presidencial, os partidos começam a montar equipes específicas. No caso do PT, a ex-ministra da Casa Civil Dilma Roussef terá a ajuda de norte-americanos que participaram da bem-sucedida campanha virtual de Barack Obama. Os estrangeiros são Scott Godstein e Joe Rospars, responsáveis pela campanha de mídias sociais de Obama em 2008, e Andrew Paryze, especialista em marketing digital da Blue State Digital agência americana especializada em campanhas online para políticos e causas. Mas se engana quem pensa que são eles que vão ditar o ritmo das ações da candidatura do PT na internet. Pelo menos, é o que garante o brasileiro Marcelo Branco, militante do movimento do software livre e organizador de importantes eventos ligados à tecnologia, que irá integrar a equipe petista.

Nosso papel será desdobrar a estratégia geral de campanha para a internet, explica. Branco, que tem mais de 3 mil seguidores no Twitter, foi contratado pela agência que organiza a campanha digital de Dilma para tratar da estratégia para as redes sociais. Meu papel não é fazer posts em blogs ou tweets, mas sim trabalhar as coisas internamente, emenda. Entre as estratégias para mobilizar os militantes do PT e do PMDB, Marcelo garante que o jogo baixo estará descartado. Mas reitera que nenhuma provocação ficará sem resposta.

A ideia é trazer a comparação entre as realizações da gestão atual contra a anterior, numa postura pró-ativa, apresentando os fatos. Mas, se as provocações vierem, vamos responder, só que com argumentos e não com mais baixaria, defende. Branco ainda rechaça estratégias comuns na internet usadas para inflar marcas e produtos. Quando se trata de uma empresa, pode ser útil criar artifícios para conseguir mais seguidores no Twitter ou referências no Google. Mas não vejo muita utilidade em uma campanha política. As pessoas não vão digitar Dilma para pesquisar, conclui.

A estratégia do PT, muito inspirada no caso de sucesso de Obama, é criar, com as redes sociais, canais de comunicação em que a informação possa ser divulgada para os militantes, mas também capitalizar em cima do que for criado por eles, como vídeos, fotos ou textos. A campanha online não será voltada apenas para os filiados, mas para apoiadores em geral. A ideia não é só fazer guerra de comunicação, mas ajudar para que a campanha ocorra de forma descentralizada. Ela não pode ser pensada por um grupo pequeno de pessoas, mas sim por milhares de internautas, acredita Branco.

Vamos responder tudo

Comando Quem vai cuidar da campanha da Dilma é a agência Pepper Comunicação, montando a equipe, da qual faço parte, com os norte-americanos Scott Godstein e Joe Rospars, que cuidaram da campanha de Obama para as redes sociais e mensagens de celular, e Andrew Paryze, da Blue State Digital. Essa equipe vai ser responsável pela estratégia na internet, mas não definirá a estratégia de campanha, e sim desdobrará a estratégia geral. Tem uma confusão de que as coisas seriam definidas pelos americanos, mas não é isso. Eles trarão a experiência no uso das ferramentas. O case do Obama é o maior sucesso mundial hoje. Então, agregaremos esse valor do marketing político e nós, brasileiros, coordenaremos.

Novo meio No Brasil, o uso da internet era limitada pela legislação. É um novo uso para as campanhas, e não só para os políticos, mas também para os eleitores. A internet pode ser decisiva, mais ainda não se tem como medir o grau de influência. Mas, que vai fazer diferença, vai. É uma forma de aproximar o político com os eleitores. No caso da Dilma, temos um patrimônio que é o governo atual e sua aprovação, num patamar que nunca tivemos. Desde que sou adolescente, sempre tivemos aquela história de que um dia vai chegaria a vez do Brasil. E, hoje, mesmo os opositores mais ferrenhos reconhecem que o Brasil vive a melhor fase da sua história. Tanto que o Obama falou que o Lula é o cara. A nossa estratégia vai ser mostrar as realizações e compará-las com as do período anterior.

Objetivos A campanha online não será voltada apenas para os filiados, mas para apoiadores em geral. A ideia não é só fazer guerra de comunicação, mas ajudar a campanha para que ocorra de forma descentralizada. Não pode ser pensada por um grupo pequeno de pessoas, e sim por milhares de internautas. Temos a vantagem de ter do nosso lado os partidos que tem o maior número de militantes, e ainda de ter o apoio dos que estão mais à esquerda, que têm a tradição do militante orgânico. Mas, no fim, o objetivo não deixa de ser atingir os indecisos.

Estratégia Não apelaremos para o uso de posts de blogueiros negativos e não vamos usar os blogueiros pagos. Cada um tem o seu espaço, sua liberdade de expressão. Não vamos articular para atacar e destruir a reputação de alguns blogueiros. Isso fica feio isso na blogosfera. A ideia é usar os canais (Twitter, Identi.ca, Orkut, Facebook e YouTube) de forma propositiva. Para isso, vamos estimular blogs espontâneos. Assim, esperamos estimular a campanha descentralizada em estados e municípios. Os endereços já existentes vão ser valorizados, para se criar uma dinâmica em rede, que estimula dando conteúdo para que toquem a campanha com suas particularidades. Os conteúdos também virão de baixo para cima.

Baixaria Vamos ter o esforço de responder tudo, nada vai passar. A baixaria não é novidade em campanhas eleitorais, só deverá ser transposta para a internet. Nossos apoiadores também serão orientados nesse sentido. A turbinagem e a falsificação de indicadores pode funcionar para ajudar a marca de uma cerveja, mas não é positiva para uma campanha. Cada baixaria será respondida com fatos. Até porque a internet funciona como um grande arquivo, que guarda todas as informações.

Americanos Temos diferenças importantes, como no uso das redes sociais, em que somos mais ativos, comunicativos. Já na questão da infraestrutura de banda larga, temos uma carência importante. Aqui, por exemplo, o Orkut é o principal espaço, já o MySpace é bem menos importante. Por isso que a estratégia não será a mesma adotada na campanha do Obama, mas eles trarão a experiência no uso das ferramentas.