Título: Depoimento adia saída de Dirceu
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2005, Política, p. A7

Crise Ministro da Casa Civil poderia vir a ser substituído por Palocci

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai esperar decantar a repercussão do depoimento do presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), antes de definir o futuro do ministro da Casa Civil, José Dirceu. O ataque frontal de Jefferson a Dirceu, na sessão da Comissão de Ética da Câmara, levou Lula a adiar a decisão. A demissão de Dirceu da Casa Civil seria a senha para uma ampla reforma ministerial, em estudos pelo presidente para recompor o governo politicamente. O presidente não quer demitir o ministro e dar a impressão de que ele foi afastado por causa das denúncias de Jefferson. Por isso, sairia no bojo de uma reforma para "oxigenar" o governo. No Palácio do Planalto acredita-se que a mudança pode nem mesmo ocorrer nesta semana, embora a avaliação seja de que a crise ganhou uma dinâmica na qual decisões tomadas pela manhã podem não servir mais à tarde. A reforma é uma carta que o governo tem na manga e que precisa, segundo acredita, jogar na hora certa, para não errar. Um dos auxiliares do presidente dizia que, se havia uma decisão na segunda-feira para a saída de Dirceu, ele foi revertida ontem com o depoimento de Jefferson, que chegou a pedir para o ministro sair antes de transformar o presidente Lula em réu. No Senado, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), pediu também para o ministro "colocar o escudo e vir para a luta, sem evasivas". Segundo esses auxiliares de Lula, quando sair, Dirceu não sairá sozinho - "abrirá a temporada de mudanças". Um dos nomes mais citados ontem para substituir José Dirceu na Casa Civil era o do ministro Antonio Palocci, da Fazenda. É um problema, pois a política econômica de Palocci tem sido justamente um dos problemas alegados por Dirceu para sua insatisfação com o governo. Os dois rivalizam desde o início do mandato de Lula. Ambos são vistos como potenciais candidatos à sucessão do presidente. Setores do governo afirmam que, nos últimos dias, Palocci estimulou a informação de que poderia vir a ocupar a Casa Civil. Em seu lugar ficaria o secretário-executivo Murilo Portugal, também cotado para substituir Henrique Meirelles na presidência do Banco Central. De acordo com essas fontes, na Casa Civil Palocci se prepararia para se candidatar já em 2006, caso Lula desistisse de disputar a reeleição, como tem ameaçado de vez em quando. Além de Palocci, outros nomes são cogitados. O governador do Acre, Jorge Viana (PT), por exemplo, levaria a vantagem de eventualmente não ser candidato no próximo ano, assim não teria que disputar com o irmão, senador Tião Viana (AC). O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) e o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, mas os dois devem disputar as eleições. O Palácio do Planalto bem que tentou manter uma aparência de normalidade durante o dia de ontem. O presidente cumpriu agenda à tarde, como a reunião da junta orçamentária, da qual participaram também Dirceu e Palocci . Mas os televisores do Palácio do Planalto estavam todos ligados nos canais que transmitiam o depoimento de Roberto Jefferson na Comissão de Ética da Câmara. Assumidamente, só o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, acompanhava a transmissão. Ao longo do depoimento Aldo trocou telefonemas com Dirceu, que também assistia partes da transmissão, e com o ministro Eduardo Campos, outro dos quatro integrantes do "gabinete de crise" montado por Lula - o quarto é o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que trata menos da questão política e mais da esfera policial. No gabinete de Aldo foram preparadas algumas das respostas dadas a Jefferson pelos líderes dos partidos aliados, como a coincidência de votações entre as bancadas do PTB, PP e PL, apontada por Sandro Mabel, líder do Partido Liberal. Antes do final do depoimento, o Planalto tinha uma avaliação positiva da batalha congressual. Por essa avaliação, Jefferson fora bom de oratória, que os anos de exercício da advocacia e do mandato ajudaram a lapidar, à primeira vista fazia parecer suas denúncias verdadeiras. mas não apresentara uma única prova e estava se enfraquecendo politicamente na Câmara na medida em que atacava todos os colegas. À noite, o Planalto informou oficialmente que Lula não acompanhou o depoimento. Foi informado ao longo da tarde pelo secretário de Imprensa, André Singer. Já a Casa Civil negou que Dirceu estaria deixando o governo e não quis se pronunciar sobre entrevista de ex-secretária do publicitário Marcos Valério, segundo a qual viu malas de dinheiro saindo da agência SMP&B e que o ministro José Dirceu teria conhecimento sobre as operações do publicitário. Valério, segundo Jefferson, foi quem entregou dinheiro ao PTB para as eleições.