Título: Bush avalia concessões ao setor de açúcar para aprovar o Cafta
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2005, Internacional, p. A9

O governo americano deve fazer concessões à indústria açucareira para tentar aprovar no Congresso o acordo de livre comércio com a América Central (Cafta). Depois de fracassar ao tentar bater de frente com o lobby do açúcar, o presidente George W. Bush entrou pessoalmente na negociação e tentará fechar esta semana um acordo com senadores ligados à indústria. As concessões ao setor determinarão se o acordo terá votos suficientes. A liderança do governo no Senado calcula que faltam de 30 a 40 votos para a aprovação. Entre as concessões que circulam no Congresso estão garantia de preço mínimo aos produtores no longo prazo e possível exclusão do açúcar de futuros futuros comerciais. "Não podemos reabrir as negociações. Vamos analisar recomendações que sejam razoáveis", disse o representante comercial dos EUA, Robert Portman, logo depois de uma sessão do Comitê de Finanças do Senado, que deu um primeiro voto de aprovação ao acordo. A votação ainda não é definitiva, e o texto voltará a ser analisado pelo Comitê antes de ir a plenário. O senador republicano Craig Thomas, de Wyoming (Estado produtor de açúcar de beterraba), mudou seu voto para favorável após receber carta com a oferta de negociação do secretário de Agricultura, Mike Johanns. Os senadores tiveram reunião ontem com representantes da indústria para levar uma proposta à Casa Branca. Na votação inicial do Comitê, o Cafta recebeu 11 votos a favor e 9 contra. A dificuldade com o lobby do açúcar na negociação do Cafta torna pouco provável a aprovação ainda este mês de mudanças na legislação para cumprir a condenação da Organização Mundial do Comércio (OMC) dos subsídios do algodão. Desde a derrota na OMC, o USTR diz que vai discutir o assunto com o Congresso para cumprir a decisão. Mas a chance de o executivo envolver-se numa briga com o lobby do algodão agora é baixíssima porque faltam votos para aprovação do Cafta. O prazo para cumprir a decisão é 1 de julho, mas os EUA têm a possibilidade de pedir à OMC uma extensão do prazo. A disputa atual com a indústria açucareira é a primeira do governo Bush contra o lobby agrícola- desde o primeiro mandato não foram barrados aumentos de subsídios. Além disso, o impacto para a indústria algodoeira da condenação da OMC seria muito maior do que o do Cafta para os produtores de açúcar. As importações de açúcar da América Central e Caribe poderiam aumentar até 50%, mas apenas num prazo de 15 anos. Segundo a International Trade Commission (ITC), órgão que analisa pedidos de anti-dumping, os preços do açúcar no mercado interno americano devem cair cerca de 1%, mas a indústria projeta redução maior. O governo afirma que o total importado a mais corresponde a apenas um dia de produção nos EUA. Se houver acordo hoje, o Cafta pode ir a plenário este mês- um ano e meio depois de assinado entre os países. O ex-candidato a presidente John Kerry foi derrotado ao apresentar uma emenda que exigia a adoção de sanções comerciais quando os países da América Central não respeitassem padrões trabalhistas.