Título: Vasp fecha acordo e renegocia dívida com a Infraero
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2004, Empresas, p. B-2

A Infraero e a Vasp fecharam, ontem, um acordo para o pagamento da dívida de R$ 11,6 milhões que a companhia aérea acumulava nos últimos três meses, devido à falta de repasse das taxas de embarque recolhidas dos passageiros. O dono da empresa, Wagner Canhedo, foi pessoalmente à sede da Infraero entregar uma proposta de quitação do débito até o fim do ano. O plano prevê o pagamento em três parcelas, distribuídas da seguinte forma: a primeira, de R$ 1,154 milhão, no dia 30 deste mês; a segunda, de R$ 3 milhões, em 30 de novembro; e a quarta, de R$ 7,5 milhões, em 22 de dezembro. "Ele disse que está desmobilizando ativos, vendendo bois e desfazendo o patrimônio pessoal dele", relatou o diretor financeiro da Infraero, Adenahuer Nunes. A estatal aceitou a nova proposta e suspendeu a entrada de uma ação na Justiça Federal para cobrar a dívida, o que ocorreria ontem. Sobre essas prestações continuará incidindo juro de 1% ao mês. A oferta apresentada à Infraero representa um avanço significativo em relação àquela feita pela Vasp na semana passada, que definia o pagamento em seis parcelas mensais, a partir de dezembro. Mas a Infraero, que é responsável pela administração dos aeroportos do país, decidiu manter o regime de pagamento diário e antecipado das taxas aeroportuárias a que a Vasp está submetida. Desde quarta-feira da semana passada, quando esse regime entrou em vigor, substituindo os depósitos a cada 15 dias, a companhia aérea já repassou à Infraero R$ 504 mil. Sem fazer esse desembolso, os aviões da companhia não podem decolar. A decisão de manter o pagamento antecipado das taxas aeroportuárias se deve ao temor de que a Vasp volte à inadimplência, segundo fontes da estatal. Quando a dívida for quitada, na penúltima semana de dezembro, a Infraero estudará a possibilidade de suavizar o esquema de cobrança diária. "Sentimos muito ter que adotar essas medidas, mas a lei nos obriga a fazê-lo", disse Nunes. A nova proposta da Vasp foi recebida sem surpresas. Funcionários da estatal acreditam que só o endurecimento nas relações com Canhedo foi capaz de gerar resultados. Em reunião com o presidente da Infraero, Carlos Wilson, ele manteve um tom passivo e não fez qualquer tipo de pedido. Apesar do endurecimento, o próprio Wilson fez questão de ressaltar, por meio de sua assessoria, que o acordo com a Vasp "é uma demonstração de paciência e tolerância que a Infraero tem com as companhias aéreas". O uso do plural seria um indicativo de que as atenções voltam-se à crescente pressão sobre a Varig. A empresa controlada pela Fundação Ruben Berta tem até o dia 31 para negociar a dívida de R$ 118 milhões em taxas aeroportuárias referentes apenas a este ano. Se não fizer nenhum acerto, entrará igualmente no regime de pagamento diário e antecipado das taxas. Pelos cálculos do diretor financeiro da Infraero, o débito deverá aumentar para R$ 130 milhões no fim do mês. Um porta-voz da Varig afirmou, ontem, que a empresa negocia o pagamento à estatal, mas não terá problemas em fazer os pagamentos diários se houver necessidade. A Infraero faz uma diferença, porém, em relação à situação da Vasp. Enquanto a companhia de Canhedo deixou de repassar taxas de embarque cobradas dos passageiros, a dívida da Varig refere-se exclusivamente à falta de pagamento de tarifas de pouso e permanência. De qualquer forma, a Infraero rejeita protelar esses débitos para o próximo ano. Não quer confundir esses valores com dívidas já negociadas e securitizadas, de R$ 750 milhões com a Vasp e de R$ 227 milhões com a Varig.