Título: Ortodoxia ganha força, avaliam empresários
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2005, Especial, p. A12

Reações à crise Espaço para critica à política econômica fica mais restrito

Empresários que se reuniram nos últimos dias para avaliar a crise política aberta pelas denúncias de corrupção no governo concluíram que ela tende a reforçar a linha ortodoxa da política econômica em vigor, reduzindo o espaço crescente que seus críticos vinham encontrando para se manifestar nos últimos meses. Na quinta-feira da semana passada, dez empresários ligados ao Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) se reuniram em São Paulo para examinar os desdobramentos da crise. Com os juros nas nuvens e sinais de que a atividade econômica está se desacelerando, eles temem que suas queixas sejam cada vez menos ouvidas. "Apesar dos seus problemas, a política econômica ainda é vista no governo como um porto seguro nesse momento", disse o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi. "Mudanças que poderiam ser feitas agora provavelmente terão que esperar a crise passar." As preocupações dos integrantes do Iedi são compartilhadas por muitas pessoas no meio empresarial. "Mexer na economia agora seria uma loucura e é improvável que o governo faça algo", diz o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Claudio Vaz. "Usar a economia para fabricar boas notícias seria muito arriscado." O governo promete divulgar hoje um pacote de mudanças tributárias para reduzir o custo dos investimentos e estimular a economia. Apesar de discordâncias sobre detalhes, os empresários tendem a aplaudir a iniciativa. Mas eles acham que as medidas terão pouco efeito no curto prazo, no ambiente restritivo criado por nove meses de alta dos juros. Empresários com influência no governo acham possível aproveitar o momento para obter concessões pontuais de Brasília. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, começou a discutir a idéia nos últimos dias e reuniu duas dezenas de líderes industriais num jantar na segunda-feira para iniciar a conversa. A pelo menos um interlocutor, Skaf sugeriu a articulação de uma espécie de pacto em que os empresários ajudariam o governo a atravessar a turbulência da crise em troca de refrescos para o setor produtivo. A idéia foi recebida com frieza. Os participantes do jantar de segunda-feira examinaram vários cenários e concluíram que a única coisa a fazer é continuar observando a crise. Num ambiente cheio de incertezas, Skaf se move de forma dúbia. Ele encontrou Lula logo no início da crise, há um mês, e deixou em Brasília a impressão de que ajudaria o governo a deter as investigações das denúncias de corrupção no Congresso. Uma semana depois, disse durante uma entrevista coletiva que o problema todo era do Legislativo e não lhe cabia opinar sobre o assunto. Na semana passada, divulgou uma nota oficial em que defende a apuração das denúncias "até as últimas conseqüências". Empresários com bom relacionamento com os petistas passaram a demonstrar desconforto. Há poucos dias, o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, manifestou preocupação com o isolamento do governo e comentou com um colega que tem encontrado dificuldades para falar com alguns ministros. Em maio, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, prometeu a Skaf que iria à Fiesp em duas semanas para debater a política econômica. A visita ainda não tem data marcada. Em conversas reservadas com outros homens de negócios, o presidente da Gradiente, Eugenio Staub, tem manifestado há meses seu descontentamento com o governo. Primeiro empresário de prestígio a declarar publicamente apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral de 2002, Staub tem evitado discutir o assunto publicamente para não criar novas complicações para Lula. O presidente do Grupo Pão-de-Açucar, Abílio Diniz, esteve com Lula ontem. "O presidente está muito sereno e tranqüilo e decidido a tomar as medidas que são cabíveis e pertinentes", disse.