Título: Aposta em transgênicos no Paraná
Autor: Alda do Amaral Rocha, Cibelle Bouças e Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2005, Agronegócios, p. B14

Soja Cooperativas do Estado disponibilizam sementes de grão modificado para 2005/06

A campanha do governo paranaense contra os transgênicos, que levou até a proibição dos embarques de grãos modificados pelo porto de Paranaguá, não inibiu as cooperativas do Estado, que começam a disponibilizar sementes de soja transgênica para o plantio da próxima safra estimuladas pela aprovação da lei de Biossegurança. A Coamo Agroindustrial Cooperativa, de Campo Mourão, a maior do país, terá, para a safra 2005/06, uma oferta de 150 mil sacas de sementes de soja Roundup Ready. De acordo com Cláudio Rizzatto, superintendente técnico da Coamo, a cooperativa adquiriu a semente básica da Coodetec - Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola - e multiplicou o material, que será vendido a seus cooperados no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Como cada saca de 50 quilos de sementes planta um hectare, o plantio na área de atuação da Coamo deve alcançar 150 mil hectares na próxima safra. Outra grande cooperativa paranaense, a Cocamar, de Maringá, vai ofertar cerca de 50 mil sacas de sementes de soja transgênica e 200 mil de convencional a seus cooperados, segundo Celso Carlos dos Santos Júnior, superintendente comercial e industrial da cooperativa. "Há um bom nível de interesse e acreditamos que a procura será maior que a oferta", observa. De acordo com ele, os produtores têm interesse em testar as sementes transgênicas, já que até hoje o prêmio pela soja convencional ficou só "na teoria". A experiência também permitirá saber quanto o consumidor final está disposto a pagar a mais por um produto não-transgênico, avalia Santos. A cooperativa Lar, de Medianeira, também decidiu disponibilizar sementes transgênicas de soja principalmente para atender os cooperados do Mato Grosso do Sul, onde tem unidade. Mário Balk, diretor comercial da cooperativa, lembra que já houve plantio ilegal no MS no passado, portanto existe demanda dos produtores locais. A Lar deve ofertar 30 mil sacas de soja transgênica, 15% de sua disponibilidade total de sementes. "O produtor quer tomar conhecimento da tecnologia", afirma Balk, fazendo coro a Santos. Ele acrescenta que produtores que venderam soja convencional rastreada e certificada receberam apenas um pequeno diferencial por isso, cerca de 2% a 3% do valor do grão. A restrição aos transgênicos em Paranaguá não desanima as cooperativas, que afirmam que as exportações podem ser feitas através de outros portos, como São Francisco (SC) e Santos (SP). "Os produtores [de sementes] paranaenses entendem que a Lei de Biossegurança permite o plantio da soja transgênica em todo o país e estão tranqüilos na sua decisão de produzir e comercializar as sementes", afirma Ivo Carraro, diretor-executivo da Coodetec. A Coodetec estima produzir nesta safra entre 2,5 milhões e 3 milhões de sacas de 50 quilos de sementes de soja transgênica, que serão comercializadas em todo o país. Segundo Carraro, a Central fechou parceria com 93 empresas e cooperativas agroindustriais para multiplicar suas sementes no país e, do total, 40 produzirão as sementes no Paraná. Outra empresa que disponibiliza sementes no Paraná, a Embrapa Transferência de Tecnologia, produziu no Estado, por meio de multiplicadores, 60 mil sacas de semente de soja transgênica, de acordo com Luiz Carlos Miranda. A decisão das cooperativas do Paraná desagrada ao governo do Estado, que defende o plantio da soja convencional. "Os jornais já mostraram experiências com transgênicos que apresentaram problemas. Quem optar pelo plantio de transgênicos terá de cumprir as regras da Lei de Biossegurança e responsabilizar-se pela decisão", diz vice-governador do Paraná e secretário estadual da Agricultura, Orlando Pessuti. "Eles assumirão todos os riscos, inclusive aqueles que resultarem em reclamações por parte de donos de outras propriedades", acrescenta. Pessuti afirma que as cooperativas não terão o apoio do governo em sua decisão e tentará demovê-las e aos produtores dessa idéia. Um dos principais argumentos do governo está na facilidade de escoamento da soja convencional. "O porto de Paranaguá não tem como fazer a segregação dos grãos e continuará fechado aos transgênicos". Segundo a Secretaria de Agricultura, 50% das cerca 9,3 milhões de toneladas de soja colhidas no Paraná em 2005 serão moídas. Desse total, 50% irá virar farelo e 18% será transformado em óleo, produto que não terá problema para embarque em Paranaguá. O movimento de adesão as transgênicos não se restringe ao Paraná. A Abrasem estima que a área com soja transgênica no país em 2005/06 irá dobrar, passando para 11 milhões de hectares - o que equivalerá a 50% da área total, se os produtores repetirem a área destinada à cultura no ciclo 2004/05. A entidade estima que a maior parte da área ainda será plantada com sementes "salvas" (multiplicadas de forma caseira pelos produtores). De acordo com Abrasem, a produção nacional de sementes transgênicas legais de soja é estimada em 3,5 milhões de sacas, produzidas com sementes desenvolvidas pela Monsoy (ligada à multinacional americana Monsanto), Coodetec e Embrapa. Todas as sementes foram produzidas com a tecnologia Roundup Ready da Monsanto. Segundo levantamento do Ministério da Agricultura de abril, foram assinados 112.652 termos de ajustamento de conduta por produtores que plantaram soja transgênica na safra 2004/05, 34,8% mais que em 2003/04. No Paraná, o número de termos cresceu foi de 591 em 2003/04 e atingiu 2.554 em 2004/05, um crescimento de 332%.