Título: HSBC financia venda de ônibus para o Chile
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2005, Finanças, p. C1

O HSBC concluiu na semana passada a assinatura dos papéis que vai garantir a maior venda de ônibus da história. O banco inglês financiou US$ 400 milhões para a venda de 1.779 ônibus da Volvo para o Chile. A operação demorou dois anos para ser realizada e o financiamento mais seis meses para ser estruturado, informaram ontem ao Valor três executivos do banco: o diretor da área corporate para a região sul, Fernando Freiberger, o responsável pelo corporate banking, Eric Striegler, e o diretor da área internacional, John Nichools. O HSBC desenvolveu o "project finance" (operação estruturada de financiamento de projetos de investimento) da venda. Os US$ 400 milhões foram financiados por 10 anos. As taxas de juros, por um acordo de confidencialidade com as empresas chilenas, não poderão ser divulgadas. Os executivos informaram que mais uma ou duas tranches podem ser liberadas em dois ou três anos para a compra de novos ônibus e projetos de infra-estrutura do transporte de Santiago. Segundo Striegler, em uma estimativa conservadora, podem ser emprestados mais US$ 200 milhões. Segundo Per Gabell, presidente da divisão de ônibus Volvo na América Latina e Caribe, o contrato, que já era o maior da história em vendas de ônibus, cresceu nos últimos dias. A empresa sueca fechou a venda de mais 110 veículos, pois uma companhia chilena que iria comprar ônibus a gás de uma empresa na Coréia desistiu do contrato e optou pelos da Volvo. Com isso, quase 100% dos novos ônibus chilenos terão a marca Volvo. Todos os veículos serão montados no Brasil, mas 620 ônibus convencionais terão chassis suecos. As carrocerias dos veículos virão de três empresas: Marcopolo, Induscar/Caio e Busscar. Eles serão exportados em lotes, ao longo de nove meses. O primeiro deles vai para o Chile em julho. A venda dos ônibus faz parte do projeto Transantiago, que pretende modernizar o transporte público de Santiago. O projeto é semelhante ao que foi feito no passado em Curitiba (PR) e em Bogotá, na Colômbia. Em resumo, o projeto quer deixar o transporte chileno mais eficiente, aumentando o número de pessoas atendidas, diminuindo os veículos nas regiões centrais e reduzindo a emissão de gases na poluída capital chilena. Espera-se que a emissão de carbono caia 77%. Hoje, Santiago tem 3,5 mil operadores de transporte com uma frota de 8 mil ônibus. O plano é substitui-los por 15 consórcios empresariais que vão operar em um sistema de corredores. O financiamento foi desenhado pela unidade brasileira do HSBC, mas como conta Nichools, o apoio da sede, em Londres, e das unidades de Santiago e na Suécia (onde fica a matriz da Volvo) foram fundamentais para a conclusão da operação. Houve ainda auxílio do Japão. "Foram cinco países trabalhando juntos para viabilizar o projeto", diz. Além disso, o banco teve apoio do Programa de Financiamento às Exportações (Proex), do governo federal, que trabalhou para equalizar as taxas de juros do financiamento. Striegler destaca que a operação tem seguro e outras garantias, mas o banco assumiu valor "muito importante do risco". Sobre as taxas de juros, Striegler apenas diz que elas são "interessantes", dado o risco do projeto, e que houve grande negociação com as companhias chilenas para se chegar à taxa final. Para participar da operação, o HSBC concorreu com outros bancos internacionais que operam no Brasil. "Falamos com vários e optamos pela proposta do HSBC", conta o presidente da Volvo. O HSBC, que não tem uma unidade separada de banco de investimento, trabalhou com consultor (ou "advisor", como prefere o executivo) durante todo o projeto, desde ajudar a definir as formas de participação da Volvo na licitação até contatos com o governo do Chile e as empresas chilenas que ganharam a concorrência (Subus Chile, Express de Santiago Uno e Inversiones Alsacia). Tudo isso demorou dois anos. O dinheiro para pagar os recursos virá da venda de bilhetes. A administração dos recursos será centralizada e vai ficar com quatro empresas: Santander Santiago, Banco de Chile, Banco del Estado, Banco de Crédito e Inversiones e CMR Falabella y Sonda.