Título: "Estamos contra mas não podemos destruir", diz FHC
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2005, Política, p. A7

No dia em que o ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu deixou o cargo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) poupou o governo federal de críticas contundentes. Com um discurso ponderado, o tucano disse que a oposição não deve "incendiar" o cenário político, mas que o governo precisa agir "senão a paciência esgota". Momentos antes da confirmação do afastamento do Planalto de um dos principais articuladores políticos do presidente, FHC reiterou sua postura contrária ao governo. No entanto, frente à situação em que se encontra o governo, foi comedido. "Se está errado, temos que corrigir. Estamos contra, mas não podemos destruir. Tem que ser uma oposição que permita melhorar e não que simplesmente ponha fogo em tudo", afirmou. "Não ajuda ninguém. O Brasil amadureceu." Para uma platéia de empresários, ontem, em São Paulo, FHC deu recado, de forma indireta, ao governo, ao dizer que é "preciso voltar ao leito do qual se distanciou". "Este país, com todo o sentimento de sofrimentos e injustiças, tem percebido que não dá mais e que é preciso corrigir. Pior do que errar é não reconhecer o erro e não tentar corrigi-lo." FHC defendeu a necessidade de um governante com iniciativa e empreendedorismo. "Não se reconstrói uma nação em um período curto de tempo. É preciso dar um tempo. Não todo o tempo, porque a paciência se esgota." O ex-presidente fomentou a pressão popular como uma das formas mais eficazes de pedir mudanças no governo, mas fez a ressalva de que a pressão deve ser moderada. Disse também que o governo não pode resolver todas as questões, mas que pode resolver algumas e que é preciso que haja pressão popular. "É preciso que haja pressão popular. Não pressão que quebre, porque esta não adianta. Deve ser uma que permita a reconstrução", opinou.