Título: PSDB liga Lula a mensalão em programa de TV
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2005, Política, p. A7

Crise Aécio Neves, Alckmin e Serra, presidenciáveis do partido evitam críticas diretas ao presidente

O PSDB aproveitou a veiculação ontem de seu programa de rádio e televisão para colocar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no centro do escândalo do "mensalão". "O presidente Lula pode ser tudo, mas a gente sabe que ele não é ingênuo e nem desinformado", disse o deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA). "Sabe - e não é de hoje - do esquema de corrupção denunciado pelo deputado Roberto Jefferson, a quem, aliás, ele chama de parceiro. E o que fez o presidente diante de tantos desvios éticos? Absolutamente nada", disse. O programa do PSDB destinou toda a primeira parte à crise política por que passam Lula e o PT. Ao final, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também exige a apuração das denúncias. "Nesse momento, o que faz bem ao Brasil e aos brasileiros é a investigação e o esclarecimento de todas as denúncias, de forma serena, isenta e honesta". Para FHC, o Brasil é um país grande, "tem tudo para crescer e melhorar a qualidade de vida da população e se transformar em um país mais justo". Mas - acrescentou -"para isso precisa reencontrar o seu rumo, o rumo certo". Com 20 minutos de duração, o programa do PSDB reservou 10 minutos para os três potenciais candidatos do partido à sucessão de Lula em 2006: José Serra, prefeito de São Paulo, e os governadores Geraldo Alckmin, de São Paulo, é Aécio Neves, de Minas Gerais. Os tucanos aproveitaram a oportunidade das denúncias de Roberto Jefferson para investir na crise. De saída, um locutor diz: "Surpresa!". Ato contínuo, um popular afirma: "O Lula esqueceu totalmente de onde ele veio , do que ele prometeu para o povo". A peça continua: "Decepção!" Outro popular completa: "Não confio mais, não acredito". E finaliza: "Revolta!" Outro personagem afirma: "Perdeu o respeito pela nossa terra, nossa terra não tem mais respeito". A voz de um locutor entra dizendo que "o Brasil sofre com escândalos". Em seguida, o programa mostra as imagens de Valdomiro Diniz, ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil, acertando receber propina do bicheiro Carlos Cachoeira. Na seqüência, exibe a fita na qual um diretor dos Correios, Maurício Marinho, embolsa R$ 3 mil de propina. O programa se refere ainda ao esquema que acobertava madeireiros na Amazônia e às compras superfaturadas de remédios pelo ministério da Saúde. E "vem o pior" - diz o locutor, com dramaticidade - as denúncias de Roberto Jefferson sobre a existência do "mensalão" - pagamento de mesada a deputados do PP e PL - na Câmara. Tudo acompanhado de imagens com manchetes de jornais sobre os escândalos referidos. "Está claro que o governo Lula e o PT fazem de tudo para abafar os escândalos", é a fala do líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). Segundo o tucano, nada mais falso do que dizer que a investigação põe em risco a governabilidade: "o que põe em risco de governar é a incapacidade administrativa do governo Lula". O programa inteiro do PSDB tenta passar a percepção de competência tucana: "Governar trabalhando e não só discursando é o jeito do PSDB", diz o senador Tasso Jereissati (CE). Os tucanos como estratégia potencializar seus programas gratuitos de rádio e TV até a eleição presidencial de 2006. O próximo, assim como os comerciais do partido, será veiculado no dia 21 de novembro. Em janeiro deste ano o PSDB requereu o mês de junho do próximo ano para veicular seu primeiro programa der rádio e TV de 2006. É uma data estratégia - logo em seguida há a liberação de propaganda eleitoral e, mais adiante, a propaganda gratuita dos candidatos, o horário eleitoral. O ataque direto a Lula, segundo dirigentes do PSDB, não significa uma mudança na estratégia do partido no Congresso. Segundo o presidente da sigla, Eduardo Azeredo (MG), os tucanos não têm como objetivo o impeachment do presidente Lula. "Não há necessidade desse processo, nós não o defendemos não", disse Azeredo, após uma exibição do programa feita a jornalistas, ontem, na sede do PSDB.