Título: Corrida em busca de jazidas chega ao país
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2005, Empresas &, p. B8

Mineração Investimentos em pesquisas alcançam US$ 165 milhões, quase o triplo do valor gasto em 2002

A recuperação dos preços das commodities minerais e metálicas a partir de meados de 2003 provocou uma nova onda de investimentos em pesquisa para descoberta de novas reservas no mundo todo. Com urgência em repor áreas já exploradas e atender certos casos de déficit na oferta, as empresas adiantam projetos de prospecção, abrindo caminho para uma nova de investimentos. Só no ano passado, os investimentos globais em pesquisa foram de US$ 3,8 bilhões, alta de 58% em relação a 2003. Os lucros recordes das mineradoras mundiais e a demanda asiática aquecida animam os novos projetos. Juntas, as 40 maiores mineradoras do mundo tiveram receitas de US$ 183,7 bilhões. "A perspectiva de preços ainda mais altos compensam investimentos pesados", afirmou Luiz Bizzi, sócio da consultoria B&A, e responsável pela Vaaldiam, empresa que prepara uma jazida de diamantes em Rondônia. No Brasil, a situação não é diferente. De olho num considerável potencial econômico, companhias nacionais e estrangeiras vão investir cerca de US$ 165 milhões só em pesquisa mineral neste ano. Nos próximos cinco anos, os investimentos privados nessa fase - indicador de atratividade do setor - devem atingir US$ 350 milhões por ano, segundo projeções do Ministério de Minas e Energia (MME), o mesmo patamar obtido em 1978 e 1979, quando o país atingiu o pico em gastos em pesquisas. A estimativa leva em conta um crescimento da exploração mundial da ordem de 15% a 25% ao ano. O Plano Plurianual do MME prevê que os investimentos em novos projetos minerais entre 2004 e 2010 atinjam US$ 8,5 bilhões. O cenário atual é bem diferente comparado a 2002, quando a pesquisa mineral atraiu investimentos de apenas US$ 60 milhões, devido à retração do preço das commodities e demanda em queda. A pesquisa é o pontapé inicial para investimentos maciços em novas jazidas ou para estender a vida útil de uma mina já em atividade. É o caso da Votorantim Metais, que neste ano vai destinar uma parte "substancial" do orçamento, de US$ 150 milhões, em estudos geológicos. O período entre a prospecção e a extração mineral pode levar de cinco a dez anos. Pesam na decisão a viabilidade econômica do projeto - se há mineral em volume viável a ser explorado -, as técnicas de extração e, sobretudo, a cotação das commodities. Os metais básicos, ouro e diamante são os principais focos de atenção das mineradoras, de acordo com Giles Carriconde Azevedo, secretário de geologia, mineração e transformação mineral do MME. Em menor grau, estão os investimentos em prospecção de fosfato, metais do grupo da platina, potássio e magnésio, matérias-primas que não são exploradas em larga escala no Brasil e que têm peso na pauta de importações brasileiras. Apesar do grande volume de investimentos, especialistas crêem que há mais espaço para crescer. Levantamento da consultoria canadense Metals Economics Group (MEG) mostra que em 1997 pesquisas demandaram US$ 5,2 bilhões no mundo. No ano passado, quando foram investidos US$ 3,8 bilhões (sem levar em consideração metais ferrosos), 50% dos orçamentos foram destinados à prospecção de ouro; 27% por metais básicos; 13% por diamantes e 4% por metais do grupo da platina. O Brasil, ainda de acordo com o estudo do MEG, figura entre os principais pólos de pesquisa. O país respondeu por 5% dos investimentos mundiais, o equivalente a US$ 120 milhões. Conseguiu ultrapassar o Chile (que atraiu 4% do orçamento mundial, ou US$ 100 milhões), mas ainda está longe dos principais países mineradores na América Latina: México (US$ 153 milhões) e Peru (US$ 203 milhões). Os maiores orçamentos em pesquisa em 2004 ficaram com o Canadá, com US$ 690 milhões. A falta de informações do potencial mineral no Brasil é o que tem levado investidores ao México e Peru, países que aliam um alto grau de levantamentos geológicos (que minimizam o risco dos investimentos) e solo rico em minerais como cobre e níquel, reconheceu o MME. A rígida legislação ambiental brasileira também inibe alguns investidores. Entretanto, para suprir essas deficiências, o MME está promovendo a modernização do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e do Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM), principalmente do sistema de concessão de outorga. Entre 2003 e 2006, o órgão deverá receber US$ 26 milhões. Serão intensificados também os levantamentos aerogeofísicos. O departamento deverá contar também com reforço de pessoal. Até 2005, devem ser contratados 1,2 mil funcionários para reforçar a equipe, atualmente com 750 pessoas no Brasil. Os estudos aerogeofísicos foram iniciados em Goiás em meados do ano passado. O projeto, que custará US$ 12 milhões (divididos entre governos estadual e federal) tem como objetivo detalhar o potencial mineral em 170 mil quilômetros quadrados. Desde novembro último (quando a primeira fase do levantamento foi concluída, com pesquisa em 30% da área total), 20 empresas já compraram as informações. Rio Tinto, Bunge, Codelco, Vale do Rio Doce, Anglo American, Yamana, Votorantim e Falconbridge figuram como adquirentes desses levantamentos. De acordo com Luiz Fernando Magalhães, superintendente de Geologia e Mineração de Goiás, a média de pedidos de alvarás de pesquisa no Estado saltou de 50 para 600 logo após a divulgação dos primeiros levantamentos. Níquel, cobre, ouro e fosfato são os principais alvos das novas prospecções. Goiás espera concluir o mapeamento até o fim do ano. Neste ano, o trabalho deve se estender para outros estados: Amapá, Pernambuco, Rondônia, Pará, Tocantins, Ceará, Bahia e Minas Gerais. Vai cobrir área de cerca de 536 mil quilômetros quadrados. O orçamento previsto é de R$ 41 milhões, incluindo a parte de Goiás. De posse dessas informações, os especialistas acreditam que o volume de investimentos estrangeiros deve aumentar nos próximos anos. As empresas nacionais deverão responder por 60% a 70% das pesquisas prevista para este ano. A maioria delas deverá ser conduzida pela Vale do Rio Doce. O orçamento da companhia em pesquisa e desenvolvimento saltou de R$ 66 milhões em 2000 para R$ 1,21 bilhão neste ano.