Título: Segundo escalão assume dia-a-dia da Schincariol
Autor: Daniela D'Ambrosio e Cláudia Facchini
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2005, Empresas &, p. B9

Operação Cevada Rede varejista já teme que crise da cervejaria se prolongue e leve ao desabastecimento

A Schincariol está acéfala, o que compromete seriamente o seu funcionamento. Sem os sócios e os diretores - que ainda continuam presos depois da operação conjunta da Receita Federal e Polícia Federal contra sonegação de impostos no setor de bebidas realizada na última quarta-feira - e sem computadores (levados pela polícia), os funcionários da área administrativa, em Itu, praticamente não conseguem trabalhar. Por enquanto varejistas afirmam que não há problemas de abastecimento, embora haja preocupação com os desdobramentos da crise. Ainda que a empresa esteja operando e as fábricas funcionando - a Schincariol não foi lacrada pela Polícia Federal - o trabalho do terceiro escalão está comprometido, pois depende da decisão dos diretores. Nenhuma compra de matéria-prima, por exemplo, pode ser efetuada, já que Gilberto Schincariol Júnior, diretor da área de compras está preso. Outros diretores presos são José Francischineli (financeiro), José de Assis Carvalho (administrativo-, além de toda a família Schincariol, incluindo o superintendente Adriano. O interlocutor da empresa, no momento, é o gerente de marketing, Luis Cláudio Taya de Araújo, único que não foi preso. É ele que faz a interface e participa de reuniões com Roberto Podval, criminalista contratado pela Schincariol. Podval é advogado do ex-senador Luiz Estevão, acusado do desvio de R$ 169 milhões das obras de construção do Fórum Trabalhista de São Paulo. Até o final da noite de ontem, Podval ainda não tinha tido acesso aos autos para fundamentar a defesa e fazer o pedido de habeas corpus. No domingo, vence o prazo de cinco dias da prisão temporária, prorrogável por mais cinco. "Acredito que peçam a prorrogação", disse Podval. O advogado ainda desconhece o teor das acusações para poder fundamentar a defesa. Segundo ele, de posse dos autos - o que deve ocorrer hoje - escritório irá definir como será feita a defesa. "A condição de cada membro da família e dos diretores é diferente, vamos definir o que é melhor para cada um." De acordo com o advogado, é provável que as haja defesas separadas. Nesse caso, novos escritórios de advocacia seriam contratados. Segundo informou a Folha News, os funcionários da Schincariol estão preocupados com o futuro da fábrica que abriga a sede do grupo cervejeiro. "Os funcionários temem pelo futuro da empresa. Eles acham que a empresa pode vir a ser fechada", disse Manoel Martins, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Bebidas e Alimentos de Campinas e Região. "Quem está tocando a empresa são os funcionários e encarregados." Além da sonegação fiscal, a família Schincariol é suspeita de estar envolvida nos crimes de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e corrupção de funcionários públicos. Ontem, o grupo divulgou nota negando as acusações e lamentando a forma como foi conduzida a ação. Os bares e restaurantes que trabalham exclusivamente com a marca Schincariol estão preocupados com o abastecimento, que poderá ser dificultado pelos problemas enfrentados pela fabricante. "As entregas estão sendo feitas normalmente. Não houve nenhuma interrupção no fornecimento", afirmou Sergio Marques, executivo que responde pela regional de São Paulo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Na segunda ou terça-feira, a empresa deverá entrar em contato com a entidade, que recebe apoio da cervejaria, para esclarecer como ficará a situação da fábrica e do abastecimento. "Não creio que haverá um prejuízo à marca. Os estabelecimentos vão continuar trabalhando com o produto", acrescenta Marques. Os varejistas também estão preocupados em ficar mais dependentes da AmBev, que possui cerca de 68,2% de participação de mercado e aproveite o momento de turbulência para aumentar preços.