Título: Ambientalistas censuram o "contra-senso" de Montreal
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2005, Agronegócios, p. B14

A posição do Brasil apresentada na reunião de Montreal, na contramão da vontade da China e da esmagadora maioria dos países que participam do Protocolo de Cartagena, encontrou forte repúdio por parte de organizações não governamentais (ONGs) e instituições ligadas ao meio-ambiente de todo o mundo. No Brasil, o Greenpeace e a Assessoria e Serviços para Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA) classificaram a decisão da delegação brasileira como um "contra-senso gigantesco". O maior temor é que se perca o controle sobre a cadeia de produção de transgênicos comercializados internacionalmente. "Em resumo, o Brasil barrou a negociação", afirmou Gabriel Fernandes, assessor técnico da AS-PTA. "Se existe o Protocolo de Cartagena, é porque há um reconhecimento internacional de que as plantas transgênicas podem trazer riscos à saúde ou ao meio-ambiente", disse ele. Para Gabriela Couto, integrante da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace, a posição do Brasil foi uma "sinalização bastante negativa para o mundo". Para ela, ficou claro que a preocupação do Brasil era menos a proteção de sua biodiversidade do que econômica. "É um contra-senso gigantesco, um país mega diverso não se preocupar em estabelecer medidas de proteção de sua biodiversidade", reiterou. O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) recebeu uma carta com a justificativa do Ministério da Ciência e Tecnologia sobre a posição adotada em Montreal. Paulo Paccini, advogado do Idec disse que a argumentação exposta é "inaceitável". "Se a rotulagem implica ônus, o produtor ou o importador é quem deve arcar com ele e não desrespeitar princípios basilares como o direito à informação e à saúde", afirmou. Para o futuro, a previsão do Idec é pessimista: "Temos um mercado de commodities agrícolas atrativo, competitivo e poderemos perder esse atrativo, vamos entrar na vala comum dos OVMs [organismos vivos modificados]" diz Paccini. No entanto, o Idec acredita que o Brasil não seja capaz de resistir à pressão internacional sobre esse tema.