Título: BC defende maior integração no varejo
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2005, Finanças, p. C8
O Banco Central quer modernizar o sistema de pagamentos do varejo brasileiro, considerado pouco eficiente e muito fragmentado. "Queremos aumentar a participação dos meios de pagamentos eletrônicos e uma maior compartilhamento de caixas eletrônicos e leitoras de cartões", destaca José Antônio Marciano, chefe do departamento de operações bancárias e de sistema de pagamentos do BC, que participou ontem do XV Congresso de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras (Ciab). O trabalho do BC começou com a divulgação do estudo "Diagnóstico do Sistema de Pagamentos de Varejo no Brasil", há duas semanas. A extensa pesquisa constatou que a infra-estrutura do sistema precisa ser compartilhada. "Não há necessidade de tantas câmaras de compensação e de liquidação", afirma Marciano. A avaliação é que, à medida que esses canais se reduzam e haja maior compartilhamento, a eficiência do sistema aumenta, o que se traduz em redução dos custos e de riscos. Hoje, o sistema de pagamentos tem sistemas que se sobrepõem, sem ser complementares, o que aumenta a ineficiência. Um exemplo são as POS, as máquinas que lêem cartões de débito e crédito. Cada bandeira tem sua própria leitora, o que encarece os custos para os estabelecimentos comerciais e, por fim, para os usuários. Para Marciano, como as empresas de cartão pertencem aos próprios bancos, um único POS teria de ler os cartões de todas as bandeiras. "Falta governança cooperativa", diz. Outro exemplo são os caixas eletrônicos. Para o BC, o ideal aqui também seria o compartilhamento, sem tarifas diferentes para os terminais próprios dos bancos e os compartilhados (como a rede 24 horas). O Banco Central está se reunido com os bancos e com empresas como a Visanet e a Redercard para conversar sobre o assunto. Um dos avanços é que as duas empresas vão liquidar suas operações na Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), que pertence a 44 bancos. A CIP também está negociando com a Tecnologia Bancária (TecBan), que administra o Banco 24 Horas, para liquidar suas operações. "Queremos trazer o máximo de operações para a CIP", diz Paulo Mallmann, superintendente geral da câmara. Pesquisas internacionais citadas na apresentação mostram que a os pagamentos eletrônicos são para os bancos entre 30% e 50% mais baratos do que os feitos com os cheques ou dinheiro. Para Marcos José Torres, que participou do estudo do BC, o problema é que os clientes não percebem esta redução de preços, por causa dos pacotes de serviços. "A tarifa do pacote não reflete a queda", destaca. Segundo ele, o objetivo do BC é "incentivar e catalisar" a modernização do sistema de pagamentos do varejo. Novas regulamentações para incentivar as mudanças não estão nos planos, mas também não estão descartadas. No cenário internacional, a Suécia conseguiu fazer o que o BC pretende implantar aqui. Lá, os pagamentos com cheques, que representavam 15% do total de transações em 1990, caíram para 0,7%. Com os cartões foi o contrário, a participação subiu de 7% (1990) para 59%. "Os bancos tiveram forte economia de custos fixos", disse a sueca Gabriela Guibourg, do Sveriges Riksbank. A estimativa é que houve uma redução de gastos de 450 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 140 milhões).