Título: Ganhos com aço devem manter-se em 2005
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2004, Empresas, p. B-4

O terceiro trimestre do ano deve ter sido "excepcional" para as empresas do setor siderúrgico e de mineração, avalia Luiz Caetano, gerente da área de pesquisa do banco Brascan. De acordo com projeções feitas por ele para oito grandes empresas, todas apresentaram lucro recorde por conta do que chamou de "momento mágico", fruto da feliz conjugação de alta de preços nos mercados interno e externo, aumento do volume de vendas e um impacto contábil favorável na conta financeira das mais endividadas devido à valorização do real. Ele estima os maiores lucros líquidos para Vale do Rio Doce (CVRD), de R$ 2,5 bilhões, Gerdau, de R$ 967 milhões , e Usiminas, de R$ 920 milhões. Na visão de Caetano, esse cenário inusitado na vida dessas companhias deverá durar pelo menos até o segundo trimestre de 2005, conforme consenso do mercado. "Nós estamos vivendo o que consideramos o topo de um ciclo. Se este pico vai persistir não sabemos, mas acreditamos que os resultados das empresas ainda serão muito bons durante os terceiro e quarto trimestres, seja em volumes e seja em preços. Para frente, acreditamos que o primeiro e o segundo trimestre de 2005 também poderão ser bons. Mas, já começa a aparecer preocupação em relação à persistência da demanda por aço." Até agora, porém, a produção das usinas siderúrgicas tem permanecido frenética em todo o mundo. Para este ano, as projeções do Instituto Internacional do Ferro e Aço (IISI, na sigla em inglês) indicam um crescimento de 7,6% para a produção mundial de aço em 2004, ante 2003. Para 2005, a previsão baixa para 4,5% por conta de um menor ritmo de expansão da produção chinesa, que cairia de 13,2% para 8,4%.

Os preços continuam acompanhando a produção e prosseguem em ascensão. As placas de aço já foram cotadas a US$ 550 a tonelada FOB para venda no primeiro trimestre de 2005. Segundo o índice geral da consultoria Cruspi, em 2004 os preços do aço subiram 44% até setembro, ou 57% em 12 meses. O destaque entre as regiões ficou com a América do Norte, onde subiram 85% neste ano. Os produtos com maior alta foram os aços planos (51,2%). Os longos subiram 31,6%. Mas, a divulgação recente do índice geral da Cruspi de outubro começou a perturbar os mercados e a introduzir dúvidas nesse cenário ideal. "Depois de meses em alta, a atualização do índice geral da Cruspi apresentou queda de 2,5% no preço global do aço em sua última atualização em 15 de outubro. A principal razão desse comportamento foi o recuo dos preços na Ásia, de 3,7%, e na América do Norte, de 4,1%", ressalta o analista. "Ainda não há razão para imaginar uma reversão de tendência, mas um recuo dos preços nessa magnitude realmente preocupa, principalmente porque ocorre nas regiões que tem sido o motor da siderurgia neste momento", alerta. Em termos de produto, a maior queda no índice Cruspi aconteceu nos aços longos (-4,3%). Caetano acredita que essa retração não irá se sustentar por conta da alta da cotação da sucata, registrada nesta semana. O analista acredita que as empresas siderúrgicas também têm suas dúvidas quanto à persistência desse ambiente confortável. Tanto que, grande parte delas está investindo seu polpudo caixa no pagamento de dívidas. Segundo os números levantados pelo analista, o endividamento líquido da oito empresas, somando as seis siderúrgicas mais Vale e Caemi, totaliza R$ 30 bilhões. "As empresas de aço encerraram em 2002 um ciclo de investimentos, num momento de preços baixos do aço e demanda desaquecida nos mercados e ficaram endividadas. Agora, estão usando sua geração de caixa para pagar dívida, principalmente o pessoal do aço plano." Caetano aposta que a partir de 2005 as companhias vão desengavetar seus projetos de investimento para aumentar sua capacidade instalada. Na área de mineração, a Vale continua investindo e tem planos de se associar a novas siderúrgicas para instalação de novas plantas no país. Na sua avaliação, essas novas usinas não vão competir com as tradicionais de capital nacional, pois as sócias da Vale serão em sua maioria estrangeiras que pretendem investir de olho na exportação. O analista não acredita que o perfil do setor siderúrgico no país vá mudar muito nos próximos anos. "Na verdade, o setor já é razoavelmente consolidado. Só o grupo Arcelor responde por 14,1 milhões de toneladas de aço no Brasil. A Usiminas/Cosipa, por cerca de 10 milhões de toneladas, e a CSN, por 5 milhões de toneladas. O grupo Gerdau já responde por 15 milhões de toneladas no país e no mundo. Se houver alguma consolidação, só se acontecer com Usiminas/CSN. "Os dois grupos mostraram interesse nesse processo, mas a Usiminas quer participar liderando. Portanto, há muitas arestas ainda a aparar", avalia.