Título: Avançam as pesquisas com cana transgênica no Brasil
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2004, Agronegócios, p. B-10

Os empresários do setor sucroalcooleiro poderão ser os próximos a ampliar a aposta nos transgênicos no Brasil. Até agora, seu envolvimento com os organismos geneticamente modificados (OGMs) têm sido discreto, baseado em estímulos a pesquisas. Mas, conforme Isaias de Carvalho Macedo, pesquisador da Universidade de Campinas (Unicamp), já há duas dezenas de laboratórios no país trabalhando em canas transgênicas e está menos distante do que parece o lançamento comercial das primeiras variedades. "Temos condições de colocar no mercado, nos próximos dois anos, variedades resistentes a herbicidas [o pesquisador citou o glifosato], além de variedades precoces que poderiam garantir maior rendimento à cana", disse Macedo, que participou ontem do 4ª Conferência Internacional da Datagro sobre Açúcar e Álcool. Por quase 20 anos o pesquisador foi gerente industrial no Centro Tecnológico da Copersucar (CTC), em Piracicaba, atual Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Em recente entrevista ao Valor, a Copersucar informou que realiza pesquisas com OGMs. Segundo Macedo, as pesquisas com cana transgênica começaram em 1997. "Os produtores de soja estão quebrando este paradigma no Brasil para garantir o plantio do grão. Não cabe ao setor sucroalcooleiro encabeçar uma campanha nesse sentido no momento". De acordo com ele, todas as pesquisas respeitam as normas determinadas pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Para José Pessoa de Queiroz Bisneto, presidente do Grupo J. Pessoa, o plantio de cana transgênica no futuro é "irreversível, um caminho sem volta". Pessoa disse que ainda não tem a real dimensão da área que poderia ser ocupada pela cana transgênica no país, mas lembrou que 20% dos canaviais são renovados a cada ano. "Diferentemente da soja, a cana plantada hoje só termina em seis anos, período de último corte", observou ele. No país, acredita Macedo, ainda não há plantio comercial de cana transgênica, já que nem mesmo os testes de campo estão aprovados. Para isso, diz, o setor está aguardando a aprovação da nova Lei de Biossegurança no Congresso. Também na conferência de ontem, Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), informou que no Centro-Sul do país a colheita de cana deverá atingir 330 milhões de toneladas, 10 milhões a mais que o estimado inicialmente e 10,2% mais que em 2003/04. Cerca de 80% da safra atual já foi colhida, o que equivale a um volume de 255 milhões a 260 milhões de toneladas. A expectativa é que a safra 2005/06 alcance 345 milhões de toneladas no Centro-Sul, conforme projeção da Crystalsev. A Unica prefere não fazer estimativas, uma vez que a atual safra está em andamento. Alguns empresários do setor acreditam que parte da cana desta atual safra fique nos canaviais por conta das atuais chuvas nas regiões produtoras do país. "Se não concluirmos a safra toda, a oferta de álcool ficará reduzida na entressafra", afirmou um deles. Também cresce a preocupação brasileira com eventuais barreiras às exportações de álcool do país, de acordo com Elisabete Serodio, consultora da Unica.