Título: Banqueiros temem que crise afete capital externo
Autor: César Felício e Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2005, Política, p. A9

A ausência de provas no depoimento do deputado Jefferson não foi suficiente para tranqüilizar alguns experientes banqueiros que enxergam com preocupação o desenrolar do cenário político brasileiro. Isso porque Jefferson deu pistas valiosas. "Ele deu indicações que podem levar a provas concretas; é só querer investigar", diz um desses banqueiros. Por enquanto, a crise deflagrada pelas denúncias do deputado Roberto Jefferson parece uma briga de bar. "Sobra para todo mundo e a polícia chega distribuindo pancada em todos", diz um banqueiro de investimento. No entanto, diz esse mesmo banqueiro, essa confusão atual, de muita denúncia e nenhuma prova, pode mudar quando as provas começarem a surgir. "Afinal, um partido comprar outro é um perigo. Até que ponto esse partido respeita as instituições democráticas? Essa é a pergunta e se a resposta esbarrar no governo as conseqüências podem ser desastrosas", avalia o banqueiro. Esses banqueiros conhecem bem os rastros que uma movimentação deixa pelo caminho. Por isso são categóricos: "quem quiser chegar ao final da história chega, para o bem ou para o mal". Isso porque, desde o início dos anos 90, com o Plano Collor, acabou a figura do título ao portador. Agora dinheiro tem que ter dono, conhecido, como nome e sobrenome. Assim, os cheques acima de R$ 100 têm que ser nominais e mesmo quem fizer um saque na boca do caixa acima de R$ 10 mil tem que ser identificado. "É claro que quem sacou pode ser um laranja, mas que depois de identificado vai abrindo cada vez mais o caminho", diz outro banqueiro. Os mercados, na avaliação desses banqueiros, ainda não estão refletindo o tamanho da crise em que se meteu o país. Segundo eles, o impacto no mercado financeiro é amortecido, principalmente, pela atuação dos investidores estrangeiros. Não há uma fuga de investidores e dois são os motivos: os estrangeiros não enxergam perigo porque acreditam que as instituições vão funcionar e a liquidez internacional é grande. O fato é que fugir de um país que paga taxas de juro altíssimas não é uma decisão fácil de tomar, principalmente num momento em que há poucas alternativas no exterior de prêmios tão gordos quanto os que o governo brasileiro paga na dívida pública. "Não fossem os estrangeiros a bolsa já teria caído 20% e o dólar estaria em forte alta", diz um desses banqueiros. Mas por enquanto, a crise para os investidores estrangeiros é apenas um ruído político. Os investidores estão fixados nos fundamentos da economia. Um gestor de fortunas diz que seus clientes estão tranqüilos. "Existe a percepção de enfraquecimento da base do governo", diz. Os investidores então estão observando o quanto essa situação vai atrasar a agenda do Congresso e o quanto vai consumir do governo para restaurar sua imagem. No entanto, ainda assim esses investidores trabalham com expectativas de crescimento para o país até 2007. "Mesmo com um crescimento menor do que no ano passado isso é muito bom porque afinal são três ou quatro anos de crescimento consecutivo", diz. Além disso, as contas externas do país estão sólidas o que é uma linha de defesa para o investidor.