Título: Para Cypriano, Palocci não sai
Autor: César Felício e Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2005, Política, p. A9
Crise Presidente da Febraban também não vê motivos para a saída de Meirelles do BC
O presidente da Febraban e principal executivo do Bradesco, Marcio Cypriano, afirmou ontem que não há contaminação da crise política no mercado financeiro desencadeada pelas denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) envolvendo suborno a deputados, mas mostrou resistência à hipótese do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, ser deslocado para o comando da coordenação política do governo, como se especula em alguns setores governistas no Congresso e no Planalto. Nesta hipótese, Palocci substituiria o ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o secretário executivo do ministério, Murilo Portugal, assumiria o seu lugar na Fazenda. Este cenário implicaria ainda na saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles e em um enxugamento geral da equipe ministerial do presidente, com a diminuição do espaço do PT na administração. "Sobre mudanças na equipe de governo, a gente deve aguardar um pouco mais para avaliar, estamos no início de um processo. Simplesmente não acredito na transferência do Palocci para a área política do governo. Não trabalho com esta hipótese. O ministério da Fazenda está dando muito certo, não tem troca da equipe econômica, não vai ter mexida nenhuma", disse o executivo. O presidente da Febraban acrescentou não ver motivos para a substituição de Meirelles, que está sob investigação judicial, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, acusado de crime eleitoral. "Não vejo nenhum sentido em Henrique Meirelles sair do governo", comentou. Para Cypriano, o Congresso poderá realizar a apuração do escândalo por meio da CPI mista, sem provocar qualquer deterioração nos indicadores financeiros. O presidente da Febraban afirmou que a economia está "totalmente blindada" em relação à crise política porque há evidências concretas de controle da inflação e confiança de investidores internacionais. O executivo disse que esta confiança pôde ser demonstrada por um recente lançamento de papéis do Bradesco no exterior, os bônus perpétuos. Segundo Cypriano, a oferta foi de US$ 100 milhões e houve demanda por US$ 700 milhões, um sinal de otimismo do mercado externo com o quadro nacional. O próprio comportamento do mercado interno no dia do depoimento do deputado Roberto Jefferson na Comissão de Ética da Câmara seria um sinal de tranquilidade. "Alguns anos atrás, com um dia como o de ontem (anteontem), teríamos o dólar disparando e a bolsa despencando e não foi o que tivemos, porque os fundamentos estão sólidos", disse Cypriano na manhã de ontem, após abrir um seminário sobre tecnologia bancária, muito antes do fechamento dos mercados financeiros. Na terça-feira, a Bovespa teve alta de 2,3% e o dólar fechou com queda de 0,65%. Mas ontem, entretanto, houve uma reversão deste quadro positivo, com a Bolsa caindo 1,02%; o dólar subindo 0,04% e o risco-País aumentando 0,24%. A reação foi interpretada na edição de hoje do jornal "Financial Times", de Londres, como um sinal de preocupação do mercado. Segundo analistas do mercado Mario Mesquita (economista-chefe do ABN Amro) e Marcelo Mesquita ( estrategista-chefe do UBS) ouvidos pelo jornal, o noticiário de ontem mostraria que a crise não arrefeceu com o fato de Jefferson não ter apresentado provas em seu depoimento. O Financial Times também cita um relatório da empresa de consultoria MCM , divulgado ontem , em que se aponta que as chances de demissão do ministro da Casa Civil, José Dirceu, nunca estiveram tão altas.