Título: Cimpor dobra exportação para África
Autor: Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2005, Empresas &, p. B9

Com o mercado interno praticamente parado, a Cimpor Brasil vai aumentar bastante as exportações neste ano. A empresa começou os embarques de cimento em 2003, quando vendeu para fora 33 mil toneladas. De lá para cá, as vendas externas vêm aumentando. No ano passado, foram 84 mil toneladas e, neste a empresa estima que vá alcançar 200 mil toneladas. De janeiro a maio deste ano, 58 mil toneladas foram embarcadas, todas para países africanos, como Congo, Nigéria e Cabo Verde. O diretor comercial, João de Avelar Ghira, contou que a Cimpor está analisando possibilidades de vendas para outros mercados. A empresa também está planejando investimentos em infra-estrutura logística, principalmente em portos, mas o diretor não quis dar mais detalhes. A maior parte do cimento exportado pela Cimpor sai de suas fábricas localizadas nos Estados da Paraíba e de Alagoas, pelos portos da região Nordeste. Para aproveitar as oportunidades de negócio, a Cimpor tem o apoio estratégico da Cimpor Trading Activites (CTA), que pertence ao grupo português. Já a Camargo Corrêa Cimentos deve repetir neste ano as vendas externas de 2004. O diretor de novos negócios da companhia, Sérgio Bandeira, disse que a empresa deverá exportar 15 mil toneladas de cimento branco. Isso representa 21% da produção total da companhia, de 70 mil toneladas. Do volume exportado, 11 mil toneladas vão para os países do Mercosul, principalmente para a Argentina - 90%. O restante vai para a África. A Argentina continuará como principal destino das vendas da Camargo Corrêa. O país vizinho não produz cimento branco e importa principalmente da Espanha, México e Colômbia. Em 2003, as vendas externas haviam sido de 13 mil toneladas. Aquele foi o único ano em que a Camargo Corrêa exportou para os Estados Unidos. Bandeira contou que, em 2004, o aumento do frete marítimo e a desvalorização do dólar inviabilizaram a exportação para o mercado americano. A demanda por navios cresceu demais no ano passado, fazendo com que a fabricante concorresse com outros produtos, de maior valor agregado, por espaço nos portos e nos navios. Segundo Bandeira, o frete chegou a aumentar mais de 200%, em alguns períodos. No mercado interno as vendas também não andam boas. O diretor da Camargo Corrêa disse que o crescimento econômico não veio no ritmo esperado pela indústria. Assim, não houve aumento significativo do emprego e nem da renda das pessoas a ponto de estimulá-las a gastar com construção. Bandeira comentou que nem mesmo o microcrédito foi capaz de aquecer o mercado nacional de material de construção, nos últimos anos. Com a demanda fraca, os preços no mercado interno continuam abaixo dos praticados no mercado externo. Segundo Bandeira, o preço médio da tonelada no Brasil é US$ 60 por tonelada, na saída da fábrica, enquanto nos Estados Unidos fica entre US$ 70 e US$ 80. Mas a exportação está longe de ser a alternativa para o mercado de cimento. Bandeira, explica que o "custo logístico" (transporte terrestre, marítimo, armazenagem e outros) é muito elevado. "A saída é o mercado interno". Ghira, da Cimpor, constata que o mercado se ressente de um maior crescimento econômico. "Nossa prioridade é o mercado interno, já que as exportações estão sujeitas às flutuações cambiais". Para ele, a redução dos preços do frete internacional poderia estimular as exportações, já que isso aumentaria as margens de lucro dos exportadores. Cimpor e Camargo Corrêa estão entre os cinco maiores produtores de cimento do Brasil, junto com Votorantim Cimentos, João Santos e Holcim. Depois da Argentina, onde comprou a Loma Negra, dona de quase 60% do mercado de cimento cinza, até o final de 2006 a Camargo Corrêa deverá pôr em operação a fábrica que vai construir no Paraguai. Com capacidade de até 200 mil toneladas, a nova unidade terá investimentos de US$ 15 milhões.