Título: Ameaça de crise longa acua mercado
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2005, Finanças, p. C2

Em dia de Copom, o que ditou o comportamento dos mercados financeiros foi a crise política. A perspectiva de encerramento do aperto monetário já estava "no preço" e os mercados preferiram agir em função de um ângulo desprezado nos dias anteriores: a ausência, por enquanto, de provas materiais das denúncias de corrupção não retira a gravidade da crise. Por ser mais ameaçadora do que se supunha antes, a turbulência não passará tão rápido. Mesmo que o governo resolva afastar autoridades sob acusação, preservando o presidente Lula de estilhaços, os mercados ficarão reféns das apurações, evidências, relatos, depoimentos, entrevistas, desmentidos oficiais, processos, fofocas e rumores que surgem ao sabor do momento. Trata-se de prato cheio para os que se dedicam ao "day-trade", desde que acertem a mão, mas a intensificação da volatilidade favorece naturalmente o viés negativo, o que é péssimo para os ânimos de investidores institucionais e empresários. A instabilidade caracterizou ontem os mercados. E os números de fechamento mostraram cautela e apreensão, sem a euforia irracional da véspera. A Bovespa encerrou em baixa de 1,02%, com o índice a 25.481 pontos e volume, inflado pelo vencimento do índice futuro e o exercício de opções de índice, de R$ 2,96 bilhões. O dólar comercial subiu 0,04%, cotado a R$ 2,4350. Na máxima do dia, registrou alta de 0,82%, mas o preço de R$ 2,4580 atraiu exportadores, ajudando a atenuar os efeitos altistas da inquietação política. Os juros subiram no mercado futuro da BM&F. Face as incertezas sobre os desdobramentos do escândalo, os investidores se recusam a assumir posições prefixadas mais longas. A alta dos juros futuros foi generalizada. O contrato mais negociado foi ontem o referente a virada de setembro para outubro. Foram negociados R$ 16,61 bilhões com a taxa subindo de 19,71% para 19,73%. Para a virada do ano, o prognóstico avançou de 19,25% para 19,29%. O swap de 360 dias ficou estável em 18,30%, embutindo juro real de 12,55% sobre a estimativa de IPCA para os próximos doze meses, de 5,11%. O medo dos investidores é de que a crise política se agrave a ponto de provocar fuga de capitais estrangeiros e consequente alta do dólar. A desvalorização do real produz mais efeitos negativos sobre a inflação do que a apreciação impactos positivos. Diante disso, a tendência natural do BC é de subir o juro.

DI ignora Copom e juros futuros sobem

Crescimento sem inflação. Nos EUA A inflação ao consumidor americano confirmou o índice auspicioso relativo ao atacado. Em maio, o CPI mostrou deflação de 0,1%, quando os analistas previam estabilidade. O núcleo, de cujo cálculo se exclui energia e alimentos, subiu 0,1%, ante prognóstico de 0,2%. Tal sossego inflacionário indica que a economia dos EUA patina? Pelo contrário, a produção industrial cresceu 0,4% no mês passado. A junção de crescimento com inflação baixa não sugere, aos economistas de bancos, a idéia de que o Federal Reserve (Fed) poderá vir a afrouxar a política monetária. Prevalece a perspectiva de novos aumentos de juros, pelo menos mais três, de 0,25 ponto percentual. A taxa hoje é de 3% e o Fed se reúne dia 30.