Título: Crise política não afeta ânimo do investidor externo
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2005, Finanças, p. C3

Os investidores estrangeiros até agora estão mais otimistas do que os locais em relação à crise política no Brasil. "É notável a diferença entre o comportamento mais cauteloso do investidor local e o otimismo dos estrangeiros, que até agora estão mantendo suas posições, numa atitude mais complacente", diz o diretor para mercados emergentes do Goldman Sachs, Paulo Leme. Os estrangeiros, apostando que a crise será passageira, praticamente não reduziram sua exposição ao país, em parte com estimulados pelo alto diferencial de taxa de juros. Para Leme, os investidores externos estão excessivamente otimistas. Leme acredita que o melhor cenário é a retomada de liderança pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com uma reforma ministerial profunda, e ausência de fatos novos revelados pelas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) instaladas no congresso. O diretor do banco Barclays Jose Barrionuevo acha que a volta de José Dirceu ao Congresso será positiva para o governo Lula, porque "reduz o poder de vozes dissonantes dentro do PT e controla melhor o partido". Barrionuevo acredita que o pior da especulação nos mercados já passou. Para o executivo do Barclays responsável pela análise de América Latina, a crise política só teria conseqüências graves para a estabilidade macroeconômica se Lula ou o ministro Antonio Palocci tivessem envolvimento no escândalo, o que até agora não foi insinuado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Mas Leme alerta que ainda há um potencial expressivo para instabilidade. "Se o presidente e o governo não forem capazes de retomar a liderança no Congresso, fazer uma reforma ministerial expressiva e realmente atacar os casos de corrupção, pode haver repercussões maiores." Leme acredita que uma resposta de Lula que não mostre coragem e decisão política tem o potencial de reduzir sua popularidade e ameaçar a reeleição em 2006. "Neste caso, pode haver uma tentativa de heterodoxia econômica, com expansão indevida de crédito por bancos estatais ou de despesas do governo, e possivelmente um abalo na credibilidade." Alguns analistas acreditam que o fortalecimento de Palocci dentro do governo deve ter repercussão positiva. Mas Leme discorda. "Não adianta um ministro forte num governo politicamente fraco, porque o Palocci atua dentro de um contexto político, por exemplo na aprovação de reformas. Um governo debilitado não interessa a ninguém."