Título: Após dois trimestres ruins, surgem sinais de retomada de investimento
Autor: Sergio Lamucci e Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2005, Brasil, p. A2

Começam a aparecer os primeiros sinais de que parte das empresas não abandonou o ímpeto de ampliar a capacidade de produzir, apesar da combinação de juro alto e câmbio valorizado. Dados do mês de maio trouxeram duas notícias positivas para o investimento: o volume de importação de bens de capital cresceu 14,4% ante abril já descontados os efeitos sazonais, e os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES )- assim como as consultas ao banco - se recuperaram com força. Ainda que seja prematuro falar em retomada consistente, outro sinal auspicioso é que a produção de insumos para a construção civil cresceu em março e abril. Cálculos do departamento econômico do Bradesco demonstram que maio registrou o primeiro aumento da quantidade importada de bens de capital na comparação com o mês imediatamente anterior após oito meses de relativa estabilidade. Para os analistas do banco, "é uma boa notícia para o investimento", embora eles ressalvem que serão necessários ainda outros números para confirmar se a tendência em curso é de fato de expansão. Os economistas do Bradesco também chamam a atenção para o fato de que é apenas o volume que explica o aumento da importação de bens de capital, já que os preços estão praticamente estáveis. No acumulado de janeiro a maio, o quantum importado de bens de capital aumentou 24,3% na comparação com o mesmo período de 2004, de acordo com números da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Já os preços cresceram apenas 0,3%. Para Fernando Ribeiro, economista da Funcex, o desempenho do quantum importado de bens de capital é positivo, superando a média das compras externas do país. De janeiro a maio, o quantum das importações totais aumentou 9,7%, contra 24,3% dos bens de capital. É o contrário do que o ocorreu em 2004, quando o volume das importações totais cresceu 18% em relação a 2003, acima dos 10% de aumento na quantidade de máquinas e equipamentos. "Os dados são um bom sinal para o investimento", concorda Ribeiro. Para os economistas do Bradesco, os empresários estão mais otimistas, já que o cenário é de queda na taxa básica de juros até dezembro. Os economistas do Bradesco acreditam que o consumo aparente - a soma da produção doméstica e das importações, excluindo as exportações - de máquinas e equipamentos deve aumentar em maio. Ainda não há dados sobre a produção, mas o quantum importado aumentou e o exportado caiu 4% em relação a abril. A comparação da produção industrial e da capacidade instalada nos últimos trimestres sugere que houve um ligeiro aumento na capacidade de produzir das empresas, ao que tudo indica resultado dos investimentos feitos nos três primeiros trimestres de 2004. De agosto de 2004 para cá, a produção industrial está praticamente nos mesmos níveis (ver gráfico), mas o nível de utilização da capacidade instalada registrou quedas discretas. Depois de atingir 85,1% em outubro, caiu para 84,6% em janeiro e para 84,4% em abril, segundo números da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para Aloísio Campelo, coordenador da Sondagem Industrial da FGV, a análise dos dois indicadores sugere que houve realmente alguma elevação da capacidade de oferta da economia, uma vez que, para uma mesma quantidade produzida, a indústria está usando um nível menor da capacidade. A questão é que nos dois últimos trimestres o investimento foi pífio. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) registrou queda de 3,9% no quarto trimestre do ano passado e mais 3% no primeiro trimestre deste ano. Esse indicador mostra o investimento na construção civil e em máquinas e equipamentos. A expectativa de parte dos analistas, no entanto, é que essa tendência tenha sido revertida. Outro fator que indica uma recuperação de investimentos em maio são os números do BNDES, como nota o economista Guilherme Maia, da Tendências Consultoria Integrada. Em maio, os desembolsos feitos pelo BNDES aumentaram 66% em relação ao mesmo mês de 2004, os enquadramentos (fase anterior à aprovação dos empréstimos), 78%, e as consultas, 32,7%. Ainda que os números do acumulado nos cinco primeiros meses do ano não sejam dos mais animadores, a recuperação registrada no mês passado é um sinal favorável. Para Maia, é possível que a percepção de que o ciclo de alta de juros estava próximo do fim tenha estimulado algumas empresas a retomar investimentos. Em 2004, a FBCF ficou em 19,6% do PIB, um número ainda baixo para um país emergente, o que limita a capacidade de crescimento do país. A Coréia do Sul, por exemplo, tem uma taxa de investimento de 29% do PIB. Maia afirma ainda que o desempenho recente da produção de insumos da construção civil também é alentador. Em abril, a média móvel trimestral mostrou crescimento de 1,5%. Nos três meses encerrados em março, o indicador já havia aumentado 2,4%. Maia nota também que, entre novembro e fevereiro, a média móvel trimestral da produção de insumos para a construção havia recuado. "Os números de março e abril também indicam alguma retomada do investimento", diz ele. A construção civil, vale lembrar, equivale a cerca de 60% da FBCF.