Título: Crédito imobiliário ainda patina
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2005, Finanças, p. C1

Financiamento à Habitação Balanços dos bancos mostram avanço lento de liberações

Apesar dos esforços recentes do Conselho Monetário Nacional (CMN) para ampliar a concessão de credito imobiliário, o volume total contratado na economia neste setor permanece estagnado neste início de ano - oscilou ligeiramente, de R$ 25,775 bilhões para R$ 26,183 bilhões, entre dezembro e março passados. Dados dos balanços dos dez maiores bancos captadores de depósitos em poupança mostram que, de fato, as instituições financeiras passaram a emprestar mais neste início de ano, porém em volume ainda insuficiente para repor os financiamentos vencidos no período. Desde 2002, o governo adotou uma série de regras para acelerar a concessão de financiamentos habitacionais. Esperava-se que os resultados começassem a aparecer, de forma mais clara, no início deste ano. O que se vê na prática, a partir dos balanços do primeiro trimestre, é que o conjunto dos dez maiores bancos contratou R$ 1,890 bilhão em novos financiamentos habitacionais, segundo dados divulgados pelo Banco Central. O valor é bem mais expressivo do que o R$ 1,072 bilhão desembolsado no mesmo período de 2004. Mas é insuficiente para repor o volume de R$ 1,936 bilhão que teve vencimento no primeiro trimestre de 2005. Nem mesmo a Caixa Econômica Federal, a instituição com maior experiência na área, repôs o crédito vencido. No período, a instituição concedeu R$ 914,717 milhões em novos empréstimos, abaixo do R$ 1,075 bilhão vencido no período. O vice-presidente de Desenvolvimento Urbano e Governo da Caixa, Jorge Hereda, explica que os empréstimos foram menores do que as amortizações porque a instituição está sobreaplicada nas regras do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que fixam o direcionamento de 65% dos recursos captados em caderneta de poupança para financiamentos habitacionais. "Já estamos aplicando bem acima do exigido", disse Hereda. Segundo ele, o excesso de aplicação é hoje calculado em R$ 2,1 bilhões, e deverá ser consumido entre o fim deste ano e início do próximo, quando as concessões voltarão a ser aceleradas. O vice-presidente da Caixa diz, ainda, que o banco está aplicando recursos próprios em habitação, fora das regras do SFH - empréstimos esses que não são capturados nas estatísticas do BC. Em apenas duas linhas, a carta de crédito com recursos próprios e o o financiamento de construções pelo Construcard, foram emprestados R$ 780 milhões, em valores acumulados até maio. O presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Décio Tenerello, reconhece que, pelos dados dos balanços trimestrais, os empréstimos mal cobrem as amortizações; mas ele pondera que o lançamento contábil esconde um extraordinário crescimento nas contratações de empréstimos - que mais adiante irá se traduzir nas estatísticas. Tenerello explica que nos balanços são lançados apenas os valores efetivamente desembolsados no período, e não o contratado. Assim, por exemplo, se um banco contratou um empréstimo para uma construtora com liberação dos recursos ao longo de dois anos, apenas o valor das parcelas desembolsadas no primeiro trimestre entram no balanço. "O dinheiro não foi liberado ainda, mas, para o banco, já está comprometido", afirma. Para ilustrar, Tenerello cita números do Bradesco, banco do qual ele é um dos vice-presidentes. O volume contratado neste ano até maio soma R$ 1,1 bilhão, dos quais apenas R$ 375 milhões já foram realmente liberados, dentro dos critérios dos balanços divulgados pelo BC. Segundo ele, a contratação de novos empréstimos do sistema cresceu 63% no primeiro trimestre e, em maio, somou R$ 290 milhões - alta de 35% em relação ao mesmo mês do ano passado. Tão logo esses volumes se reflitam em liberações efetivas, os valores contratados irão crescer de forma exponencial, até atingirem uma velocidade de cruzeiro - e será apenas uma questão de tempo para que esse movimento se reflita nos balanços.