Título: MST ocupa fazendas e prefeituras
Autor: Telles, Marta
Fonte: Correio Braziliense, 13/04/2010, Política, p. 7

questão fundiária

Dentro das atividades do abril vermelho, entidade dos trabalhadores sem terra tenta chamar a atenção para deficiências em assentamentos

Em dois dias da Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou quase 20 ocupações, principalmente em Pernambuco, São Paulo e Mato Grosso do Sul. No estado nordestino, sete propriedades foram ocupadas na manhã de ontem e se somaram a outras oito tomadas no domingo. Mais de 2 mil famílias participaram das ações. Segundo informações de lideranças do MST, as ocupações continuam até o fim da semana.

Em Glória do Goitá, a 46km do Recife, representantes das famílias que vivem no assentamento Canavieira ocuparam a prefeitura da cidade. Eles ficaram no local por cerca de três horas e reivindicavam a retirada de um aterro sanitário do município da propriedade em que moram. Segundo informações do MST, as mobilizações ocorreram de maneira pacífica. Não houve confronto com a polícia e até o fechamento desta edição também não havia determinação judicial para que os Sem-Terra desocupassem nenhum dos 15 engenhos.

No Sertão houve quatro ocupações. Em Ibimirim 130 famílias ocuparam a Fazenda Passarinho. No município de Belém do São Francisco, 110 famílias ocuparam a Fazenda Cacimba Nova e Cacimba do Meio. Outras 150 famílias ocuparam a Fazenda Aipueira. No município de Itacuruba a Fazenda Jatinã foi ocupada por 150 famílias. E no Agreste, a Fazenda Taquari, que fica no município de Passira, foi reocupada por cerca de 80 famílias.

Suspense O lider do MST em Pernambuco, Jaime Amorim, comentou as ações da jornada. As ocupações vão ocorrer durante toda a semana. Vamos continuar agindo, principalmente nas regiões mais conflituosas. E vamos fazer outros atos como o de Glória do Goitá, contou. Amorim não quis adiantar as ocupações(1) de hoje, mas afirmou que no próximo sábado o foco sai do campo e chega à capital pernambucana. Sábado vamos colocar um acampamento no Recife. Ainda não definimos o local, mas vamos ficar por tempo indeterminado, até que haja uma rodada de negociações com o governo e o Incra, prometeu.

Segundo ele, o movimento é bastante forte no estado e junto com Bahia e Sergipe possui o maior número de acampamentos. Mas são também os estados com os maiores número de conflitos. Já São Paulo e Pará são os estados em que a violência contra o MST é mais exposta, declarou. Sobre a evolução da violência no campo desde o episódio de Eldorado dos Carajás, o líder do MST disse ainda que houve uma pequena evolução. No ano passado muita gente foi presa em Pernambuco, também houve mortes. O latifúndio continua violento, afirmou.

1 - Estrada bloqueada Moradores de um acampamento do MST às margens da BR-163, em Naviraí (MS), fecharam ontem um trecho da rodovia. No local vivem 600 famílias aguardando a desapropriação da Fazenda Mestiço, no extremo sul do Estado. Eles querem a instalação de redutor de velocidade em frente às barracas de lona plástica, onde este ano aconteceram 30 atropelamentos de crianças e adultos. O protesto ocorreu durante visita do governador André Puccineli (PMDB) à cidade para inaugurar obras. A BR-163 é o principal corredor de caminhões com cargas entre o MS e o PR.

As ocupações vão ocorrer durante toda a semana. Vamos continuar agindo, principalmente nas regiões mais conflituosas

Jaime Amorim, líder do MST em Pernambuco

O número

20

Quantidade de áreas que dependem de decisões da Justiça em Bauru, no interior paulista

Incra sitiado

Em São Paulo, cerca de 150 integrantes do MST invadiram o escritório regional do Incra em Bauru, a 345km de São Paulo. Os funcionários que chegavam para trabalhar não puderam entrar no prédio e o órgão não funcionou. O grupo, proveniente de um assentamento de Piratininga, cidade da região, reivindica melhoria na infraestrutura do local. A ação foi reforçada por integrantes da Federação dos Agricultores Familiares do Estado de São Paulo (Fafesp), provenientes do assentamento Aymorés, do município de Pederneiras.

De acordo com a coordenadora regional do MST, Maria Judith, os dois assentamentos estão sem água e têm acesso precário. No Piratininga, instalado em 2003, as casas e o galpão para comercialização de produtos nem foram concluídos. O Incra trata os assentados com descaso, disse. No fim da tarde, os assentados decidiram montar um acampamento ao redor da sede para passar a noite.

Justiça O coordenador nacional do MST, Gilmar Mauro, disse que as ações da jornada nacional de lutas do movimento, conhecida como abril vermelho, serão intensificadas. Ele não descartou as ocupações de fazendas e de prédios públicos. Vamos fazer ações localizadas para chamar a atenção para problemas que vão da falta de escolas para os assentados à demora da justiça em decidir sobre as terras públicas que foram griladas.

Segundo ele, apenas na região de Bauru, pelo menos 20 áreas dependem de decisões da Justiça e de outros órgãos públicos para serem destinadas a assentamentos. A reportagem entrou em contato com a assessoria do superintendente do Incra em São Paulo, Raimundo Pires da Silva, mas não obteve retorno.