Título: Factoring cresce com a quebra do Banco Santos
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2005, Finanças, p. C1

A quebra do Banco Santos fez crescer o negócio das empresas de factoring - ou fomento mercantil. A partir da intervenção do Banco Central (BC) no Santos, em novembro de 2004, os bancos pequenos e médios reduziram drasticamente o financiamento de pequenas e médias empresas por falta de recursos para alavancar empréstimos. A intervenção detonou um processo em que os investidores e bancos pararam de comprar CDBs emitidos por bancos pequenos e médios, afetando a liquidez do mercado. Sem poder contar com os grandes bancos - que têm restrições a operar com pequenas e médias empresas -, a saída para as empresas foi recorrer às factorings para vender duplicatas e fazer caixa. Os dados ainda não estão totalmente fechados, mas a Associação Nacional das Sociedades de Fomento Mercantil (Anfac) calcula que a carteira de operações das 780 empresas de factoring associadas à entidade fechou 2004 na marca de R$ 42,5 bilhões. Esse valor representa um crescimento de 23% comparado a 2003 e equivalia a 27% do total de crédito concedido pelos bancos para as empresas com recursos livres. Entre 2001 e 2003, o crescimento das carteiras foi de 13% e 15%, respectivamente. No primeiro semestre de 2005, o volume das carteiras se aproxima de R$ 18 bilhões, em relação aos R$ 15 bilhões de igual período de 2004, mais 20% de crescimento, calcula Dorival Maso, assessor da presidência da Anfac. "Toda vez que tem uma crise bancária ou econômica ou política, repercute em maior movimento nas factorings", explica Maso. Porém, esse processo já vem há alguns anos sendo reforçado pela consolidação do sistema bancário brasileiro, com a quebra de grandes bancos em meados dos anos 90 e as fusões e aquisições de pequenos pelos grandes que se seguiu a partir daquela época, relata Cesário Ramalho da Silva Filho, diretor da Trend Bank, uma das maiores factorings do país. Com mais de uma centena de empresas em carteira, a Trend Bank também viu os negócios aumentarem na faixa de 20% entre o final de 2004 e início de 2005. Cesário diz que o movimento só não foi maior por causa da retração da economia neste período, como resultado das sucessivas altas da taxa de juros básica, a Selic. Não que faltem empréstimos: "Há muita liquidez no mercado, mas os limites individuais diminuíram. Aquele banco de negócios que você tinha antes, que fazia descontos automáticos de títulos para as empresas, acabou. Hoje os bancos levam 30 dias só para aprovar os cadastros", explica Cesário. Para Luiz Lemos Leite, presidente da Anfac, um ex-diretor do BC que há mais de 20 anos trabalha na divulgação da atividade de factoring, a expansão dos negócios também deve ser atribuída a um esforço da entidade e suas associadas de se colocar como prestadoras de serviços e consultores de empresas, mais do que meras compradoras de duplicatas. "O factoring é a prestação contínua de serviços de apoio, conjugado ou não com a compra dos direitos creditórios", reitera Lemos Leite. De fato, as empresas de factoring vêm sendo cada vez mais apontadas por pequenas e médias empresas como assessoria de negócios, além de uma alternativa de financiamento mais flexível e desburocratizada do que os bancos, embora mais cara. Há mais de cinco mil empresas de factoring no país, sendo apenas 780 são associadas à Anfac. Lemos Leite reconhece que as factoring são mal-afamadas por conta de uma grande quantidade de agiotas e empresas de fachada que se identificam como do mesmo setor, mas reitera que estão todas fora da Anfac. A entidade tem um projeto de lei no Congresso (PL 230/95, tramitando no Senado) para regulamentar a atividade de factoring e impedir que maus profissionais se identifiquem como tal.