Título: Ata deve indicar mês do início do desaperto
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2005, Finanças, p. C2
Apesar do comunicado emitido ao término da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central que decidiu manter a Selic em 19,75% não ter assegurado tratar-se do encerramento do ciclo de aperto monetário iniciado dez meses antes, o mercado financeiro considera concluída a fase de alta do juro. Não tem nenhum sentido parar de subir o juro agora para retomar a escalada logo mais adiante. A decisão tomada na última quarta-feira não foi mera pausa. O que as instituições querem saber agora é quando o Copom iniciará o declínio, em uma preparação que visa permitir que a economia entre 2006 acelerando. Essa estratégia, de pisar no freio no início do ano e depois acelerar fundo, já foi usada com muito sucesso em 2003. Na reunião do Copom do dia 23 de julho de 2003, o juro básico foi derrubado de 26% para 24,50%. As baixas subseqüentes também foram acentuadas. E 2004 começou com taxa de 16,50% e pé embaixo no acelerador. Politicamente, o governo precisa que 2006 repita o crescimento pujante de 2004. Mas, desta vez, o BC não deverá a iniciar a derrubada da taxa logo em julho. Há uma possibilidade, ainda remota, de que deslanche o ciclo de baixa em agosto, mas o mercado ainda situa a reunião de setembro como o marco para juros nominais e reais mais baixos. Quanto mais tempo o BC demorar para indicar a rota declinante maiores terão de ser as baixas no quatro trimestre do ano se o governo quiser replicar, no ano que vem, a mesma expansão econômica experimentada no ano passado. Pistas valiosas sobre a disposição de ânimo do Copom serão fornecidas na ata da reunião do Copom realizada na semana passada. O documento será publicado na próxima quinta-feira, justamente quando o IBGE divulga o IPCA-15 referente a junho. Os analistas esperam tombo sensível, de 0,83% no mês passado para algo perto de 0,20%. A ata poderá antecipar a ênfase que será conferida nas próximas reuniões ao modelo matemático usado para projetar o IPCA a partir das variáveis de câmbio e juros. Com a manutenção da Selic em 19,75% e a desvalorização do dólar para aquém da linha de 2,40%, o prognóstico do índice oficial de inflação já está perto de 5,3%, apenas levemente acima da meta de inflação para 2005, de 5,1%, e muito abaixo (algo como 3,8%) da meta de inflação para 2006, de 4,5%. Esse dado, perigoso e enganoso, poderá estimular o CMN a fixar para 2007 uma meta ainda mais ambiciosa, entre 4% e 4,25%.
Possível saída de Meirelles não preocupa
Os mercados se comportaram na sexta-feira como se a crise política já tivesse acabado. Bastou o afastamento do deputado José Dirceu do núcleo duro do poder para transmitir a sensação de que Lula passa a ser invulnerável a insinuações e ataques. A reforma ministerial moralizadora, que implicará a saída de ministros acusados de práticas irregulares, como Henrique Meirelles, não assusta os mercados. Em épocas passadas, a simples insinuação de que Meirelles poderia deixar o Banco Central já seria motivo para turbulências devastadoras. Agora, não mais. Por vários motivos: o cenário internacional está bem sossegado, com liquidez abundante, os fundamentos da economia se mostram sólidos e não há dentro do governo programa alternativo ao atual conservadorismo. Com a queda de Dirceu, foi-se o último defensor dentro do governo de uma política econômica menos conservadora. Se Meirelles sair do BC, será substituído por alguém muito parecido com ele no atributo que interessa ao mercado: a pureza da ortodoxia. O mercado prefere uma solução caseira do tipo Murilo Portugal, já que desagrada a uma parte dos bancos a opção Bevilaqua. O diretor de política econômica, Afonso Bevilaqua, criou inimizades na ala dos bancos que vinha desde março apostando dinheiro na manutenção da Selic. Entre os falcões do BC, Bevilaqua, dada a autonomia que de fato já desfruta a autarquia, é tido como a alternativa mais arriscada às pretensões políticas de Lula. Alguém de cintura menos rígida seria mais aconselhável. Mas certamente não será ninguém disposto a reduzir rapidamente o juro real para 6% ou estabelecer bloqueios fiscais ao ingresso de capitais externos. Com Lula blindado e garantida a ortodoxia monetarista, os mercados celebraram na sexta-feira. A Bovespa subiu 1,33%, para 26.092 pontos. Na semana acumulou ganho de 4,58%, recuperando-se das perdas anteriores tanto que, no mês, já exibe evolução de 3,51%. O dólar comercial caiu 0,75% na sexta-feira, para R$ 2,3880. Após duas semanas em alta, na semana passada desvalorizou-se 3,44%. No acumulado do ano perde 10,02%. O risco-país caiu sete pontos na sexta-feira, para 405 pontos-base. Irá testar a barreira dos 400 pontos esta semana.