Título: Fim do ciclo de alta dos juros traz boas oportunidades
Autor: Mara Luquet
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2005, EU &, p. D2

O governo encerrou na semana passada o mais forte ciclo de aperto monetário dos últimos tempos. O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) este mês manteve a taxa de juro básica Selic inalterada, uma decisão já esperada pelo mercado e por isso com poucos reflexos tanto na Bolsa de Valores como no mercado futuro de juros. Os gestores de recursos começam agora a digerir os números macroeconômicos que estão sendo divulgados e os sinais do cenário político para fazer operações nas suas carteiras à espera de quando terá início o ciclo de baixa da taxa básica de juro da economia brasileira. "Em algum momento a queda vai começar", diz Luis Eduardo de Assis, diretor executivo do HSBC no Brasil. Segundo Assis, são duas as variáveis que vão determinar a data que terá início este ciclo de baixa nas taxas de juro: desaceleração da atividade econômica e taxa de inflação. "Esses dois indicadores sugerem que o ciclo de alta já acabou, e podem sinalizar o início da queda nas taxas já nos primeiros meses deste segundo semestre", diz Assis. Para ele, a data pode ser em setembro. Por isso, Assis diz que o momento é particularmente interessante para comprar papéis de renda fixa de longo prazo, em especial aqueles corrigidos pela inflação. Pode parecer uma contradição, uma vez que o mercado espera um recuo na inflação nos próximos meses. No entanto, esses papéis estão pagando uma taxa historicamente muito alta e esta talvez seja uma oportunidade para garantir ganhos excelentes por muito tempo. A Bolsa de Valores de São Paulo vai se beneficiar bastante quando este ciclo de baixa das taxas de juro efetivamente tiver início. Por isso, vale a pena olhar com cuidado excelentes papéis que exibiram perdas enormes este ano, mas cujas empresas permanecem exibindo excelentes fundamentos. No entanto, ainda é na renda fixa que os gestores de recursos enxergam as grandes oportunidades de ganho e o momento não poderia ser melhor para comprar alguns papéis para sua carteira, segundo eles. Afinal, eles esperam que um novo ciclo de alta não ocorra tão cedo. O fato é que, com juros básicos de 19,75% ao ano, fica muito difícil encontrar qualquer outro investimento interessante. George Wachsmann, responsável pelos fundos de fundos da gestora independente Fidúcia Asset Management, diz que, com esse juro, ninguém deveria comprar nada diferente de papéis de renda fixa do governo. "E por muito tempo esta vai ser a melhor opção", diz Wachsmann. "A taxa básica vai cair, mas o juro real vai continuar alto por um bom tempo", acrescenta. Juro real é o ganho que você tem acima da inflação com as aplicações em renda fixa. Como a expectativa é de queda para a taxa de inflação, mesmo com a taxa de juro nominal caindo, o ganho real dessas aplicações permanecerá elevado. Wachsmann cita como exemplo papéis do governo de 40 anos que pagam 9% ou 10% ao ano acima da inflação. "É um ganho muito atraente", diz. Pelos cálculos de Wachsmann, uma única aplicação de R$ 50 mil hoje num papel com essas características pode proporcionar uma aposentadoria de R$ 2,2 milhões acima da inflação em 40 anos. Para quem está nos seus 20 anos de idade, essa é uma alternativa e tanto. Para aqueles que já estão às vésperas da aposentadoria a aplicação é igualmente sedutora, diz Wachsmann. "Com R$ 3 milhões investidos num papel desses, você consegue uma renda de 25 mil ao mês sem tocar no principal, a cifra corresponde ao ganho acima da inflação", diz. Enfim, se você puder investir um pouco de tempo para olhar com cuidado essas alternativas na renda fixa, poderá encontrar alternativas de investimentos muito sedutoras. Lembre-se de que se o país conseguir finalmente colocar sua economia na rota saudável de taxas de juro mais baixas, você precisará correr mais risco para encontrar oportunidades de ganhos da mesma proporção.