Título: Falta de acordo trava mudança no Conselho da ONU
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2005, Brasil, p. A4

A reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas está caminhando para um impasse. Não há acordo nem entre os países desenvolvidos sobre como proceder com a reforma, e os EUA querem que antes da mudança do Conselho ocorram outras mudanças na ONU, como o enxugamento de pessoal, redução de despesas e corte de organismos que se sobrepõem. A ONU tem 45 mil funcionários em todo mundo e 70 mil tropas para manutenção da paz. Na semana passada, os EUA anunciaram que só apóiam dois novos membros permanentes para o Conselho, frustrando a expectativa do G-4, grupo formado por Japão, Alemanha, Índia e Brasil, que tenta obter assento permanente, com direito a veto. Os EUA já deixaram claro que só apóiam o Japão, e não a Alemanha. A China, outro membro permanente do Conselho, rejeita a entrada do Japão no organismo, devido à rivalidade e tensão centenárias entre os dois países. Oficialmente, os EUA declararam a preferência pelo Japão entre os dois países desenvolvidos do G-4. Entre Índia e Brasil, parece haver uma preferência não declarada pela Índia, mas fontes diplomáticas brasileiras afirmam não ter recebido nenhuma indicação nesse sentido. Uma fonte envolvida nas discussões admite que "agora ficou mais difícil para o Brasil" fazer parte do Conselho de Segurança. Um dos maiores argumentos do Brasil para conseguir o assento no Conselho foi o envio de mais de mil soldados para a missão de paz da ONU no Haiti. Mas a falta de resultados na estabilização da situação no país não ajuda o pleito. De qualquer maneira, o impasse na negociação do novo Conselho de Segurança atende aos interesses americanos. Os EUA preferem adiar ao máximo a discussão. Na semana passada, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, disse que os EUA não querem que a reforma do Conselho ocorra antes de "outras reformas extremamente importantes" na ONU, como mudanças gerenciais, do secretariado, a criação de um fundo para a democracia e não-proliferação de armas nucleares. A Câmara dos Deputados americana aprovou sexta-feira um projeto de lei que prevê cortar à metade as verbas dos EUA para a ONU se não começarem as reformas no organismo. Os EUA financiam quase um terço do total do orçamento, incluindo programas voluntários. Do orçamento oficial de US$ 1,5 bilhão, os EUA pagam US$ 330 milhões. Além disso, doam adicionalmente US$ 2,5 bilhões para programas voluntários, como a Unicef. Entre as exigências do projeto de lei estão a criação de um comitê de auditoria independente, redução de gastos com divulgação de informação e maior facilidade para retirar a imunidade diplomática em caso de conduta criminal. A Casa Branca declarou ser contrária ao projeto, mas ele foi aprovado por 221 votos a 184. O presidente George Bush mantém a alternativa de vetar o projeto. Não é a primeira vez que o Congresso impede a liberação de verbas para a ONU. Na década de 90, discussões sobre o pagamento de multas de trânsito em Nova York provocaram a redução do orçamento em US$ 1 bilhão. Até agora o Congresso não votou o nome do indicado por Bush para o cargo de embaixador americano na ONU, John Bolton. O funcionário do Departamento de Estado já passou por duas sabatinas no Senado e não foi aprovado por causa do histórico de conflitos com subordinados e pressões para produção de relatórios de inteligência insinuando armas de destruição em massa em países que não as detinham, como Cuba.