Título: Carteira assinada perde espaço para vaga informal em São Paulo
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2005, Brasil, p. A2

A taxa de desemprego ficou estável em 17,5% no mês de maio na região metropolitana de São Paulo. No entanto, foi a primeira vez no ano em que o número de postos abertos sem carteira assinada superou a criação de vagas com carteira. De acordo com a pesquisa realizada pela Fundação Seade e Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), entre abril e maio foram gerados 46 mil empregos informais e 2 mil vagas formais foram fechadas. Esse movimento preocupa, porque sinaliza uma precarização do mercado de trabalho, após um período de intensa geração de empregos com vínculos formais e maior proteção trabalhista. As vagas precárias chegaram mesmo a ultrapassar a geração total de vagas em maio, que ficou em 35 mil. "Houve migração do emprego: postos com carteira foram fechados, enquanto cresceu o trabalho informal", explica Clemente Ganz Lúcio, direto-técnico do Dieese. Em maio, mais 8 mil pessoas ficaram desempregadas em São Paulo, uma vez que a criação de 35 mil vagas não foi suficiente para absorver a entrada de mais 43 mil pessoas na força de trabalho, chamada de população economicamente ativa (PEA). Hoje, existem 1,7 milhão de desempregados em São Paulo. O aumento do emprego foi maior no setor da indústria, com 40 mil postos. Em seguida, ficaram os serviços, com 19 mil. Em contrapartida, o comércio fechou 11 mil postos. Em 12 meses, os serviços lideram a criação de vagas, com 213 mil novas ocupações. A indústria é a segunda colocada, mas vem bem atrás, com 85 mil postos de trabalho. Essa composição do emprego tem reflexo perverso sobre o rendimento médio real dos trabalhadores, pois o setor que mais gera vagas também é um dos que menos paga e onde boa parte dos trabalhadores não possui vínculo empregatício formal. Em abril, o rendimento médio real dos ocupados cresceu somente 0,1% sobre março deste ano, e 0,4% na comparação com abril de 2004. Mesmo assim, a massa salarial, produto do nível de ocupação e do rendimento, teve desempenho melhor, puxada pelo emprego. Entre março e abril, ela ficou 0,8% maior. Sobre abril do ano passado, o avanço é de 5,5%. Um indicador alentador da pesquisa mostra que o tempo médio despendido na busca de trabalho pelos desempregados caiu de 51 para 49 semanas. É o menor tempo desde o mês de maio de 2002. Sobre igual mês de 2004, a redução foi de 8 semanas, de 57 para 49 semanas). Para junho, o cenário é mais otimista. Alexandre Loloian, coordenador na Fundação Seade da pesquisa de emprego e desemprego, afirma que dois fatores jogam a favor dos trabalhadores a partir deste mês. Segundo ele, é o início de um período em que as empresas começam a se preparar para a produção do segundo semestre, sazonalmente mais aquecido do que o primeiro. Além disso, é um momento em que as pessoas deixam de entrar no mercado de trabalho, o que diminui a concorrência por um emprego.