Título: Bancários vêem primeira disputa desde 1997
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2005, Brasil, p. A2

Pela primeira vez desde 1997, o comando do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região está sendo disputado por duas chapas. A eleição para a presidência da entidade, contudo, não está restrita à escolha do novo presidente e à renovação da atual diretoria. A entrada da chapa de Dirceu Travesso, da direção Nacional do PSTU, fez com que o debate da oposição extrapolasse a esfera sindical e centrasse fogo no governo Lula. A eleição teve início na segunda-feira, dia 20, e termina amanhã, às 18 horas. A chapa da situação tem como líder o atual presidente do sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, da corrente petista Articulação. Contam a favor do sindicalista a tradição da corrente à frente do sindicato (desde 1979) e conquistas sociais e trabalhistas ao longo dos últimos anos como a criação de uma cooperativa de crédito e a ampliação do direito ao vale-alimentação para bancários do setor público. A campanha salarial do ano passado pode ser um ponto desfavorável a Marcolino. Em 2004, após greve de 30 dias, os bancários aceitaram um reajuste de 8,5%, bem abaixo dos 19% propostos pelo sindicato, e uma participação nos lucros de 80% do salário mais R$ 750, sendo que o pedido era de uma PLR de um salário mais R$ 1,2 mil. A proposta dos empresários colocada na mesa antes da greve foi praticamente a mesma aceita após dois meses de negociação. A única mudança ocorreu na cesta-alimentação extra, que foi de R$ 217 para R$ 700. O cientista político e ex-bancário Sidney Jard acredita, no entanto, que o resultado da campanha do ano passado terá pouca influência na eleição. Ele lembra que 82% dos bancários de São Paulo trabalham em bancos privados e valorizam quesitos como eficiência e modernidade na atuação sindical. E a chapa da situação explora justamente esses pontos, pois exalta o investimento na qualificação dos bancários e o projeto de financiamento habitacional, por exemplo. Há também uma gráfica que junto com a mensalidade paga pelos filiados gera orçamento anual de R$ 36 milhões. Travesso tem um discurso que se afasta de propostas trabalhistas e sociais e centra fogo no que chama de atuação "chapa branca" por parte da direção atual. "O sindicato perdeu autonomia e independência em relação ao governo Lula. Ele deixou de representar a categoria, pois está mais preocupado em proteger membros de um governo que conta com financiamento de banqueiros do que defender nossos interesses", diz.