Título: Furlan sugere que Brasil também poderá restringir produto argentino
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2004, Brasil, p. A-3
Se as restrições à entrada de produtos brasileiros na Argentina servirem para aumentar a participação de exportadores de outros países, "não tem jogo": o Brasil poderá usar "ferramentas semelhantes" em relação ao país vizinho, afirmou o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Apesar da dura reação contra a vantagem obtida por exportadores mexicanos e chilenos com a criação de cotas para geladeiras brasileiras, Furlan afirmou que o governo não pensa em "retaliação" contra os argentinos. "Retaliar, não; nosso caminho é o diálogo". Furlan informou que, na terça-feira, ele e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, conversaram por telefone com o ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, com quem decidiram promover uma reunião de representantes dos dois países, em dezembro, para avaliar o comércio bilateral. "O Brasil não vai abrir mão de mercado argentino em favor de terceiros", garantiu Furlan, criticando o espaço aberto com as restrições aceitas pelo governo a produtos brasileiros. "Todo argumento (em favor das barreiras aos produtos brasileiros) foi construído porque a indústria argentina precisava ter espaço; mas, se é para abrir mão para terceiros, não tem jogo". Ao lhe perguntarem o que significa dizer que "não tem jogo" com os argentinos, Furlan explicou: "significa que podemos usar ferramentas equivalentes". Ele não quis detalhar que "ferramentas" seriam usadas, repetindo que o tema será discutido com o governo argentino em dezembro. Furlan afirmou que, nessa reunião, vai cobrar os resultados da política de licenças não automáticas para importação de máquinas de lavar, que, na prática, paralisou as vendas do produto à Argentina. "Não podemos imaginar que essa situação possa continuar ad infinitum, não é razoável", queixou-se. Furlan informou que, na conversa com Lavagna, o ministro não chegou a repetir o argumento de algumas autoridades argentinas, de que as importações de produtos do Chile e do México foram feitas apenas para complementar linhas de produção de fábricas chilenas e mexicanas instaladas na Argentina. O ministro classificou de "inaceitável" a vantagem adquirida por outros países, na exportação para à Argentina com as restrições aos brasileiros. As barreiras levantadas no país vizinho tiveram um "duro" impacto sobre o setor de televisores, e afetam o desempenho exportador dos fabricantes de eletroeletrônicos, lembrou.