Título: CPI não vai parar Congresso, diz Dilma
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2005, Política, p. A6

Crise Para nova chefe da Casa Civil, estabilidade econômica e desenvolvimento podem andar juntos

Apresentando-se como "facilitadora" da execução de programas oficiais e rejeitando o rótulo de técnica, a nova ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, garantiu ontem que as investigações das denúncias de corrupção no governo não vão paralisar a tramitação de projetos no Congresso. Para ela, conciliar votações legislativas com os trabalhos da CPI dos Correios será um "desafio para a maturidade democrática" e duvidar disso seria "subestimar" o Congresso. "É perfeitamente possível conciliar uma tramitação adequada dos projetos com as investigações da CPI", afirmou Dilma, em sua primeira entrevista após assumir a nova função. Ela também demonstrou otimismo em juntar a manutenção da estabilidade macroeconômica com o desenvolvimento de projetos de infra-estrutura. "Vamos saber equilibrar de forma sábia esses dois aspectos", acrescentou a ministra. Dilma, que na solenidade de posse foi chamada pelo antecessor José Dirceu como "companheira de lutas" e "camarada de armas" por ter participado do movimento guerrilheiro na ditadura militar, disse que terá como missão criar um ambiente para a implantação de projetos desenvolvidos por cada ministério. Ela se auto-classificou como "facilitadora" e "potencializadora" de projetos, mas afirmou que também terá uma missão política. Segundo ela, não se trata de uma missão de articular interesses políticos do governo, mas dialogar com parlamentares e governadores sobre projetos importantes. Dilma repetiu várias vezes que seu trabalho de gestão não é "exclusivamente técnico". "Isso é uma supersimplificação", reclamou a ministra. "É um trabalho técnico, também, mas ele tem um componente político baseado nas políticas que os governos adotam para realizá-lo, baseado nas diretrizes de planejamento implantadas", afirmou. Dilma revelou ter recebido de Lula a missão de implementar projetos sociais e de infra-estrutura. Em rápida entrevista no início da madrugada de ontem, ela disse ter algumas prioridades: a transposição do rio São Francisco, o programa "Luz para Todos", aperfeiçoamentos no Bolsa-Família e o Fundeb. Ela refutou insinuações de que tem dificuldades no diálogo com o Congresso, lembrando que o novo modelo do setor elétrico foi elaborado e recebeu aprovação parlamentar em 16 meses, além de ter recebido 80 emendas de deputados e senadores. O PMDB e a oposição alegaram desentendimentos com Dilma para rejeitar uma indicação dela à direção-geral da Agência Nacional do Petróleo. Para empresários, a ida de Dilma para a Casa Civil poderá destravar projetos de infra-estrutura, especialmente no setor elétrico. O presidente da Associação Brasileira de Infra-Estrutura e das Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, afirmou que a presença de uma especialista no Palácio do Planalto poderá dar fôlego a obras ainda pendentes, como usinas hidrelétricas que dependem de licenciamento ambiental. "A agenda do setor ganhará prioridade", disse Godoy. Para ele, a ministra não terá dificuldade de diálogo com o Congresso. "Na tramitação do novo marco regulatório de energia, ela demonstrou muito jogo de cintura", completou. Segundo a ministra, o governo tem um acúmulo de projetos já encaminhados e bem-conduzidos, que precisam entrar em implantação. É nesse sentido que Dilma disse pretender atuar como facilitadora do consenso e da execução desses programas. Dilma deverá levar uma equipe pequena de assessores do Ministério de Minas e Energia para a Casa Civil. O secretário-executivo, Nelson Hubner, será mantido no cargo, segundo ela mesma informou. Ela se disse "um pouco confusa" ao receber o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o novo cargo por ter deixado o novo modelo do setor elétrico ainda pendente do seu último grande teste, que é leilão de energia nova, provavelmente em dezembro.