Título: CPI ouve ex-presidente do PTB no dia 29
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2005, Política, p. A8

A forte pressão política da oposição levou os governistas a concordarem com a antecipação do depoimento do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) na CPI dos Correios para o 29. Os parlamentares da base do governo que integram a comissão aceitaram ouvir o parlamentar na próxima semana desde que antes fossem esgotados os depoimentos de diretores e ex-funcionários da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), o que ocorrerá até terça-feira. A convocação de Jefferson foi aprovada por unanimidade numa votação em bloco de 110 requerimentos apresentados à CPI. Entre eles, também foi aprovada a convocação do secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, e do sócio das agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda, Marcos Valério - citado por Roberto Jefferson como o responsável pela suposta distribuição de dinheiro entre parlamentares para que votassem a favor do governo. A estratégia da oposição é acelerar a coleta de depoimentos para que seja feita na CPI dos Correios a conexão entre os supostos esquemas de corrupção em estatais com as denúncias de financiamentos ilegais de campanhas eleitorais e pagamentos de deputados (mensalão) para garantir votos favoráveis ao governo, ambas feitas por Jefferson. Já o governo aposta na criação da CPI do Mensalão. O presidente do Senado, Renan Calheiros, convocou para hoje uma reunião de líderes da Câmara e do Senado para discutir se a CPI Mista do Mensalão será criada. Já foram colhidas as assinaturas necessárias nas duas Casas. O presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), propôs um acordo ao PFL e PSDB, para evitar novos confrontos. O governo sabia que a convocação de Jefferson era inevitável. O senador petista também assumiu ontem um compromisso com o PFL de que, após o depoimento de Jefferson, será discutida a data de convocação de Marcos Valério. Antes da sessão de ontem à noite da CPI, Delcídio e o relator, Osmar Serraglio (PMDB-PR), anunciaram o resultado de uma triagem feita ao longo do fim de semana dos 160 requerimentos apresentados. Serraglio recomendou a aprovação de 110 deles. Os governistas apresentaram, em seguida, uma lista de 21 depoentes. A idéia era deixar o depoimento de Roberto Jefferson para uma segunda fase. A cronologia sugerida pelos governistas foi imediatamente recusada pela oposição. Na reunião de hoje com Renan, PFL e PSDB vão manifestar razões contrárias à instalação da CPI do Mensalão. A oposição já traçou até um esquema para a linha de investigação: 1) de quem foi a idéia de comprar partidos e parlamentares; 2) quem teria operado os esquemas; 3) que órgãos públicos ou privados estão envolvidos; 4) quem supostamente foi comprado com os recursos. Ontem, Delcídio conseguiu fortalecer-se politicamente após o embate com o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer. Por pressão política, a empresa divulgou ontem uma nota à imprensa em que considera legais e regulares os contratos feitos com usinas termelétricas em 2002 - durante o apagão - quando Delcídio ocupava a diretoria da estatal. Na nota, a Petrobras explica que os contratos foram feitos com base na legislação em vigor e que tornaram-se "desequilibrados econômica e financeiramente", fato devidamente comunicado em dezembro de 2002.