Título: Marinho nega que tenha recebido propina
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2005, Política, p. A8

Indiciado pela Polícia Federal por fraude em licitação e corrupção passiva, o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) Maurício Marinho prestou ontem o primeiro depoimento à CPI dos Correios tentando atribuir responsabilidade por supostas irregularidades a outros departamentos da empresa: de tecnologia e de operações. Ambos os setores eram ocupados por dirigentes indicados pelo PT. O discurso de Marinho repetiu a mesma lógica do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), que teve o nome envolvido no escândalo de corrupção nos Correios após Marinho ter sido flagrado em fita de vídeo recebendo R$ 3 mil de dois interlocutores que se diziam empresários. O ex-chefe admitiu que recebeu o dinheiro, mas negou ser propina. Não deu explicações convincentes sobre o momento mais chocante da fita de vídeo, quando ele coloca o dinheiro no bolso. "Peguei os R$ 3 mil. Não pedi dinheiro nenhum. Queriam incriminar a empresa, o partido político. Peguei o dinheiro e guardei. Foi uma falha, um ato impensado", justificou. No diálogo gravado, Marinho disse que não fazia nada sem consultar Jefferson. Ontem, o ex-chefe dos Correios afirmou aos parlamentares da CPI que não é filiado ao PTB e nem tem ligações com políticos. "Eu estou sendo colocado como bode expiatório. Cada diretoria da empresa tem um partido político por trás. Eu não sou político", disse. O depoente afirmou que são "os dois diretores de Tecnologia e Operações que detém o grande valor orçamentário da organização", e que "quem está por trás (dos dois) é o PT, é o seu Sílvio Pereira". A afirmação provocou tumulto na CPI. Em seguida, Marinho disse que não conhece "Silvinho" (secretário-geral do PT), mas que lhe disseram que é o petista o responsável pelas indicações dos dois dirigentes. O depoente disse repetidas vezes que a fita de vídeo é criminosa e que foram feitas quatro gravações por arapongas que se passaram por representantes de uma multinacional. Ele disse ainda que teria recebido uma proposta para fazer consultoria a essa empresa e receber R$ 15 mil mensal. Marinho sugeriu que as gravações foram feitas para incriminar políticos (no caso o PTB) e empresas. Ele insinuou ainda que além do empresário Arthur Waschek, que reconheceu ser o mandante da gravação, há outras pessoas envolvidas no episódio agindo por interesses comerciais. Marinho citou cada diretoria e os políticos responsáveis por indicações: "Diretor de recursos humanos - Ney Suassuna; diretor comercial - Hélio Costa; o presidente (dos Correios) - Michel Temer; diretor de administração - PTB".