Título: Deputado de Goiás confirma que sabia do esquema de mensalão
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2005, Política, p. A8

O deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) confirmou ontem em seu depoimento ao Conselho de Ética da Câmara que soube que o líder do PL, Sandro Mabel (GO), propôs à deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) vantagens financeiras para se filiar ao PL. O deputado também confirmou que soube que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) já havia avisado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da atuação de Mabel. "Confirmo tudo o que disse e garanto que a deputada vai reforçar tudo aqui amanhã (hoje)", disse. Ele disse que outros dois deputados tucanos também foram avisados do caso: o então líder do partido na Casa, Custódio Mattos (MG) e o atual secretário da Prefeitura de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira. Procurado pelo Valor, Mattos confirmou que foi informado da proposta de Raquel: "Não tomei atitude porque ela me procurou informalmente, não fez denúncia e não tinha provas". No depoimento anterior, o deputado Miro Teixeira (PT-RJ), ex-ministro das Comunicações no primeiro ano do atual governo, entrou em contradição com o depoimento do presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson (RJ), autor das denúncias de que o PT pagava mensalão a deputados do PL e do PP e réu no processo disciplinar da Casa. No depoimento da semana passada, Jefferson afirmou que avisou Miro, enquanto ministro e em uma reunião em seu gabinete, da existência do mensalão, e que o ministro, então, o convidou a conversar sobre isso com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na versão do petebista, ele teria sido receptivo à proposta da conversa com o presidente. "Eu disse que poderia conversar com o presidente a qualquer momento, era só Miro marcar a hora", afirmou Jefferson em seu depoimento. Ontem, entretanto, Miro negou a reação de Jefferson. "Realmente houve a conversa e sugeri levá-la ao presidente Lula, mas Roberto Jefferson se negou a encontrar com o presidente", afirmou o ex-ministro. Ele disse que acredita que Jefferson recusou a conversa com Lula naquele momento, em 2003, porque não deveria ter provas do mensalão. Miro também se recusou a completar a conversa que teve com Jefferson. "Ele disse em seu depoimento apenas metade da conversa, mas não vou contá-la, ele fez as denúncias e não vou repetir algo que não posso provar", afirmou. O ex-ministro, contudo, confirmou que em nenhum momento o nome do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, do publicitário Marcos Valério - acusado por Jefferson de participar do esquema de pagamento do mensalão - e nomes de deputados que receberiam mensalão foram citados em suas conversas com Jefferson. Já o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), prestou depoimento na Comissão de Sindicância da Corregedoria da Câmara e negou, mais uma vez, ter intermediado um encontro entre Jefferson e Arlindo Molina, o chamado "comandante Molina". Molina é acusado por Jefferson de ser um dos autores das gravações que flagram o recebimento de propina por parte de Maurício Marinho, ex-diretor de compras dos Correios, e de tentar extorqui-lo. Jefferson havia dito que somente recebeu Molina depois que Suassuna fez o pedido da reunião. Suassuna disse que o próprio Molina assumiu, em entrevista à imprensa, que o encontro entre ele e Jefferson já estava marcado e que o senador apenas pediu, atendendo a uma solicitação do prefeito de Belém, Duciomar Costa, que a reunião fosse adiantada.