Título: Manifesto homônimo dos movimentos sociais ataca "golpismo"
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2005, Especial, p. A12

Documento homônimo, mas ideologicamente oposto à "Carta ao Povo Brasileiro" de 2003, foi lançado ontem pelas organizações sociais em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta Carta, pede-se a apuração rigorosa das denúncias de corrupção do governo, critica a condução da atual política econômica e acusa a elite do país de liderar uma campanha cujo objetivo seria desestabilizar o governo. A coincidência de nomes e a proximidade de datas, no entanto, não é proposital. "Agora que você me lembrou daquela carta (de 2002). Eu nem tinha 'me ligado' que tinha o mesmo nome", disse Luiz Marinho, presidente da CUT, que, ao lado do MST e da UNE, coordenou as entidades sociais para a elaboração do texto. De acordo com ele, a carta busca, em primeiro lugar, chamar a atenção da sociedade para um possível movimento da elite do país de abalar o governo e, assim, conseguir, implementar políticas por ela defendidas e enfraquecer o presidente para as eleições do ano que vem. "De olho nas eleições de 2006, as elites iniciaram, através dos meios de comunicação uma campanha para desmoralizar o governo e o presidente Lula, visando enfraquecê-lo, para derrubá-lo ou obrigá-lo a aprofundar a atual política econômica e as reformas neoliberais, atendendo aos interesses do capital internacional", afirma o documento. Marinho diz que já notou esse suposto oportunismo desde a divulgação das primeiras denúncias. "Já vemos setores, por exemplo, falando em diminuir ainda mais a participação do Estado na economia. Querem aproveitar a crise política do país para criar condições de impor as medidas que defendem", disse. Ao mesmo tempo, porém, em que acusa a elite de golpismo e oportunismo, a carta das entidades sociais também critica Lula, que diz ter sido eleito "com a esperança de realizar mudanças na política neoliberal", mas que "até este momento, pouca coisa mudou". E aproveita para reivindicar os rumos que acreditam ser necessários para o país. "Queremos aproveitar a crise e pressionar o governo para que ele caminhe no rumo que achamos que ele tem que tomar", diz. Nesse sentido, ataca a taxa de juros e a manutenção do superávit primário. No campo político, pede , sem mencionar nomes ou partidos, a exclusão do governo de "setores conservadores que querem apenas manter privilégios" e a recomposição da base de apoio do governo. A carta pede que as investigações também sejam estendidas às denúncias de compra de votos de parlamentares em troca de apoio à emenda da reeleição e de supostas irregularidades nos processos de privatizações ocorridas no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.