Título: Momento adequado
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 11/04/2010, Mundo, p. 24

Barack Obama escolheu bem o momento para realizar o encontro sobre segurança nuclear em Washington. Amanhã, ele recebe seus convidados como o presidente que, na última semana, revisou o caos da política nuclear americana deixada pelos antecessores inclusive assegurando que os Estados Unidos não usarão armas atômicas contra os signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) sem arsenais e que definiu com a Rússia a redução de suas ogivas em 30%. É após assumir essas responsabilidades que Obama pedirá aos líderes de 45 países que também tomem cuidado com seu material nuclear. Sabemos que existem materiais nucleares no mundo que não estão em locais seguros, advertiu Obama ao apresentar a conferência, em julho do ano passado. Para o vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Marcos de Azambuja, a tentativa do governo americano de mobilizar os países tem tudo para dar certo. O que se espera é uma decisão dos participantes de aumentarem as medidas que eles tomam para impedir que armas nucleares caiam em mãos de terroristas ou de grupos não autorizados. E há um consenso de que isso é bom para todo mundo, avalia. O especialista Andrew Riedy, do Centro para o Controle de Armas e a Não Proliferação, no entanto, acredita que os Estados Unidos deverão assumir mais compromissos no encontro, por terem mais arsenais do que qualquer outro país. A ameaça do terrorismo nuclear não está distribuída equitativamente. Países como os Estados Unidos deverão carregar o maior peso na hora de implementar as recomendações dessa cúpula, disse Riedy em um artigo recente. Vários países signatários do TNP, como o Chile, utilizam, por exemplo, as instalações americanas para reciclar seu urânio enriquecido. Outro líder que deveria ser muito cobrado no encontro resolveu cancelar sua presença na última hora. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou, na sexta-feira, que não iria a Washington, mas não deu explicações. A decisão foi tomada depois que membros do governo israelense advertiram sobre o risco de países como o Egito e a Turquia aproveitarem a ocasião para exigir que Israel, que não é signatário do TNP, abra suas instalações nucleares a inspetores estrangeiros. Para Azambuja, a opção de Netanyahu não surpreende. O fato de Israel ter armas nucleares e não admitir formalmente cria uma ambiguidade e, numa conferência como essa, seria difícil mantê-la, observa. (IF)