Título: Preço do petróleo recua em Londres e Nova York
Autor: Patrícia Nakamura e Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2005, Empresas &, p. B9

Os contratos futuros de petróleo recuaram ontem, após atingirem, no meio do dia, patamares perto dos US$ 60. A queda, provocada pela realização de lucros, fortalece a expectativa de alguns analistas de que esses níveis de preço não se sustentem a partir do segundo semestre. No mercado de petróleo de Nova York (Nymex), o contrato para julho encerrou a US$ 58,90 o barril, um recuo de 47 centavos de dólar. Em Londres, o contrato do tipo Brent, para entrega em agosto, caiu 82 centavos de dólar, fechando a US$ 57,50 por barril. "O preço avançou por conta dos temores de falta de abastecimento ou outros desequilíbrios à frente. Mas o mercado deve se corrigir", disse Bill Ferer, presidente do W.H. Reaves & Co, empresa de investimento em Nova Jersey. Para Jean-Paul Prates, sócio da consultoria Expetro, preços próximos a US$ 60 não são um "patamar circunstancial", mas pode ser explicado pela "multiplicação de expectativas", como a divulgação de informações sobre os estoques americanos e dados sobre o crescimento da atividade econômica dos principais países consumidores. A divulgação dos estoques nos EUA deve ocorre hoje. Segundo Prates, o mercado mundial chegou a um novo patamar de consumo, que vem pagando sem pestanejar os preços internacionais. A partir do segundo semestre, com a adequação dos estoques asiáticos e a desaceleração econômica, o preço poderá voltar para níveis entre US$ 40 a US$ 50. A insuficiência mundial de refino (principal gargalo do setor) é um dos fatores que pode conter essa tendência de queda. Na opinião de Oswaldo Telles Filho, analista do Banif Primus, a volatilidade deve permanecer por um bom período, pois a China, um dos principais consumidores mundiais, ainda é um fator de desequilíbrio entre oferta e demanda. Neste cenário, a Petrobras tem uma leve vantagem sobre os demais competidores internacionais. Seus preços (reajustados em dezembro) não seguiram as oscilações do barril, garantindo à empresa um "ganho teórico" de US$ 67 milhões sobre as empresas que acompanham as cotações. O preço do barril de petróleo acima de US$ 50 está renovando a atenção internacional sobre a produção de biocombustível, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), que fez seminário ontem sobre o assunto, co-patrocinado pelo governo brasileiro, em Paris. As projeções da AIE são de que a produção de biocombustível está ficando mais barata e pode substituir até 10% do uso de gasolina e 3% do óleo diesel até 2020. Outros fatores estão estimulando a produção e o uso de biocombustível, incluindo agricultura e surgimento de novas tecnologias. Segundo a AIE, a tecnologia "Biorefining" tem o potencial para aumentar enormemente a produção por hectare, em até quatro vezes comparado à produção atual, e também produzir químicos, fibras, fertilizantes e energia elétrica. A introdução do carro bicombustível, usando etanol e gasolina, é visto como uma enorme oportunidade. O Brasil tem mais potencial do que os EUA para a produção, segundo analistas.