Título: Ênfase dada à violência opõe Lula a empresários cariocas
Autor: Chico Santos e Heloisa Magalhães
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2004, Especial, p. A-10

A posse do empresário Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira para seu quarto mandato à frente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) foi marcada por uma divergência de ponto de vista entre empresários, a começar pelo próprio Eduardo Eugênio, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a ênfase dada ao problema da violência e da segurança pública. O tema foi o eixo central do discurso de posse do presidente da Firjan. Baseado em pesquisa do Fórum Econômico Mundial sobre competitividade, Eduardo Eugênio disse que "o crime organizado é hoje o grande fosso que separa a sociedade e a economia brasileira das que mais prosperam no mundo". Para ele, a criminalidade no Brasil "é um fosso que coloca em risco a própria democracia". O presidente da Firjan ressaltou que o problema é nacional, mas enfatizou que "a violência está fora de controle no Rio". Após abrir o discurso dando destaque à necessidade de viabilizar as reformas estruturais, como a tributária e a trabalhista, para pavimentar o caminho da retomada do crescimento de forma sustentável, Eduardo Eugênio disse que a segurança pública "é hoje a grande prioridade nacional". Segundo ele, sem combate, a criminalidade "cresceu em ousadia e se imiscuiu nos poderes da República". O discurso foi demoradamente aplaudido por uma platéia de mais de 500 pessoas, majoritariamente empresários. O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, elogiou o foco do pronunciamento de Vieira. Para ele, o problema da violência vem tomando proporções que influem negativamente nos investimentos no Brasil. O presidente da Sul América Seguros, Patrick de Larragoiti Lucas, foi outro que aprovou a ênfase dada ao tema da violência no discurso do presidente da Firjan. Para ele, o problema diz respeito a toda a sociedade brasileira. Ao encerrar a solenidade de posse, o presidente Lula deu um tom diferente ao assunto. "É verdade que o Brasil tem violência, mas o Brasil tem muitas outras coisas que nós precisamos mostrar cotidianamente e que muitas vezes não mostramos, meu caro Eduardo", disse dirigindo-se diretamente ao presidente da Firjan. Segundo Lula, o governo está disposto a, "sem deixar de dizer a verdade", fazer com que a imagem do país divulgada no exterior "seja a imagem real do Brasil". Lula fez elogios ao trabalho do ministro da Justiça, Marcio Thomas Bastos, e afirmou que a ênfase no trabalho de inteligência que está sendo dada pelo ministro é o caminho para combater a força do narcotráfico no país. Segundo ele, a polícia brasileira foi "historicamente preparada para combater ladrão de galinha" e não está apta a combater o narcotráfico. Para Lula, o trabalho de inteligência que está sendo feito trará resultados, ainda que isso não deva ocorrer "nem ontem, nem amanhã". No final do evento, o presidente da Firjan disse que não entendeu as palavras de Lula como uma crítica ao seu discurso. Mais tarde, ao falar na abertura do 32º Congresso da Associação Brasileira de Agentes de Viagem (Abav), Lula voltou à temática de que é necessário enfatizar os fatos positivos para o bem da imagem do país. Para o presidente, o Brasil deveria se envergonhar da divulgação de fatos que prejudicam a imagem do país no exterior e que acabam inibindo o fluxo de turistas estrangeiros para o país. "Não estou pedindo para não dizer as coisas que acontecem, mas é preciso saber como tratar. Tem violência? Tem, mas temos como relativizar", afirmou. Lula usou uma imagem doméstica para exemplificar como ele acha que os problemas de imagem devem ser tratados. "Se um sujeito toma um cascudo da mulher, não vai dizer que tomou um cascudo, vai dizer: 'Minha mulher estava nervosa", disse. O empresário Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira assumiu o quarto mandato à frente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e ficará no cargo até 2007. Ele foi reeleito com a aprovação de 93% dos votos dos sindicatos filiados à instituição. (Colaborou Janaina Villela)