Título: DAC já tem plano para ocupar rotas da Vasp
Autor: Cristiano Romero e Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2004, Empresas, p. B-1

O governo espera que a Vasp pare de funcionar a qualquer momento e já não acredita na recuperação da empresa. "A Vasp detém pouco mais de 7% do mercado doméstico. Esse percentual de passageiros é facilmente assimilável pelas outras empresas", disse ao Valor um auxiliar direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Departamento de Aviação Civil (DAC) já montou um plano para evitar o caos nos aeroportos em caso de paralisação súbita dos vôos da Vasp. Depois de um rápido período de rearranjo dos passageiros, o governo estará preparado para licitar novamente as rotas da companhia de Wagner Canhedo. Os técnicos do governo não confirmam, mas no mercado aposta-se que apenas duas empresas teriam condições de assumir rapidamente as rotas da Vasp: a TAM e a Gol. Envolvida em sua própria crise, a Varig aguarda a operação de socorro a ser anunciada pelo governo e, por isso, não tem condições de assumir uma nova fatia do mercado neste momento. O governo prevê dificuldades apenas em relação a algumas rotas de baixa atratividade. A própria companhia já cortou, em função da paralisação de seis aviões, boa parte dessas rotas, mas ainda opera vôos para Corumbá (MS), um dos destinos que o governo considera de difícil substituição. Há duas semanas, Canhedo apresentou ao governo um plano de reestruturação financeira e operacional, uma exigência do DAC para que fosse prorrogada, por seis meses, a concessão da empresa. Apesar de ter autorizado a prorrogação, o governo acha que a proposta da Vasp não é crível. "O plano prevê até a importação de seis aviões Boeing 737, mas eles não têm dinheiro para fazer essa compra", explicou uma fonte do governo, usando a expressão "coitadinho do Canhedo" ao qualificar a proposta. A importação seria para substituir os seis aviões que, por medida de segurança, foram proibidos de voar pelo DAC. A Vasp deve R$ 774 milhões à Infraero e, nos últimos três meses, parou de recolher as taxas aeroportuárias, algumas delas, cobradas de seus passageiros, mas não repassadas à estatal. "Eles mudaram a conta bancária da empresa para o Banco Rural e, até hoje, a Infraero não foi informada dessa nova conta", contou um técnico. Na quarta-feira, Canhedo apresentou à Infraero um plano de pagamento, em três parcelas, da dívida de R$ 11,6 milhões acumulada nos últimos três meses. A estatal concordou com a proposta, que evitou que a Vasp fosse acionada judicialmente. O governo, no entanto, é cético em relação ao cumprimento do acordo. Afinal, a dívida terá que ser quitada no espaço de apenas dois meses. A situação da Vasp vem se deteriorando de forma acelerada nos últimos meses. Em agosto, a companhia detinha, segundo o DAC, 9,93% do mercado domésticos de passageiros. Em setembro, a fatia de mercado encolheu para 8,6% e, em outubro, segundo fonte do governo, está caindo para algo em torno de 7%. O governo já decidiu que não socorrerá a Vasp, como pretende fazer com a Varig. Na avaliação do Palácio do Planalto, a administração da Varig está trabalhando de maneira "profissional" para resolver os problemas da empresa. Para a Vasp, o tratamento oficial será de mercado. Não se tomará qualquer medida para evitar a quebra da empresa.