Título: Reciclagem involuntária no Senado
Autor: Lima, Daniela; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 17/03/2010, Política, p. 2

Diante de perspectivas desanimadoras nas urnas ou levados por circunstâncias, um em cada três integrantes da Casa que encerram o mandato em 2010 não pensam em reeleição

Daniela Lima e Denise Rothenburg Pelo menos 20 dos 54 senadores que terminam o mandato em 2010 estão dispostos a não concorrer à reeleição. A decisão, no entanto, não tem nada a ver com o fato de o Senado ter passado por maus bocados e um rosário de denúncias nos últimos tempos. Pelo menos um terço deles vai desistir porque tem poucas chances de voltar ao céu como os próprios senadores se referem à Casa por conta da boa convivência entre diferentes partidos e os tapetes azuis, marca registrada do espaço interno. Três devem sair do Senado em busca de um mandato de governador, considerado o caminho natural numa carreira política. Só dois o fazem por livre e espontânea vontade: Ideli Salvatti (PT-SC) e Osmar Dias (PDT-PR). Aloizio Mercadante (PT-SP) deseja concorrer à reeleição, mas a conjuntura atual começa a empurrá-lo para a disputa do governo paulista. Pelo menos quatro já decidiram concorrer a um mandato de deputado federal, o caminho inverso do que os políticos costumam buscar. Em Minas, por exemplo, a briga pelo Senado está engarrafada. Além do governador Aécio Neves, são pré-candidatos o ex-presidente da República Itamar Franco e o atual vice-presidente, José Alencar. Com tantos nomes de peso, Eduardo Azeredo (PSDB) e Wellington Salgado (PMDB) terminaram alijados da corrida e terão de se contentar com uma cadeira na Câmara. Wellington já começou a se despedir. Ele entregará o mandato daqui a 15 dias ao senador Hélio Costa, que deixa o Ministério das Comunicações para concorrer ao governo de Minas. Outros dois que já tomaram a decisão foram Roberto Cavalcanti (PRB-PB) e José Nery (PSol-PA). Nery chegou ao Senado pelas mãos do PT, como suplente da senadora Ana Júlia Carepa (PT). Ela deixou o mandato em 2006, quando se elegeu governadora do Pará. Nery, desta vez, não terá os militantes petistas engajados na campanha, mas tem nome para tentar conquistar uma vaga na Câmara. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), cogita concorrer a um mandato de deputado se sentir que não haverá espaço para a reeleição. A disputa pernambucana para o Senado inclui o senador Marco Maciel (DEM), o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Armando Monteiro Neto (PTB), e um dos dois petistas, o ex-prefeito de Recife João Paulo ou o ex-ministro da Saúde Humberto Costa. Há também quem esteja decidido a dar um tempo do parlamento, caso do senador Gerson Camata (PMDB-ES). Um dos mais experientes da Casa, desistiu da reeleição para abrir espaço à candidatura de sua mulher, a deputada Rita Camata (PSDB-ES), que tentará o Senado pela primeira vez. Gerson sequer considerou a possibilidade de concorrer a um mandato de deputado, mas não descarta ocupar um cargo no Executivo a partir de 2011. Dos suplentes que assumiram mandato no decorrer desta Legislatura, muitos não se arriscarão a encarar a avaliação popular nas urnas. Caso do senador Paulo Duque (PMDB-RJ), suplente de Sérgio Cabral, que deixou o Senado para comandar o estado do Rio de Janeiro em 2007. Duque ganhou fama nacional ao comandar o engavetamento dos processos movidos contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), no Conselho de Ética ano passado.

Regra três

João Tenório (PSDB-AL) é outro suplente que chegou ao Senado com a eleição do titular para o governo do estado, e também não entrará na disputada por uma cadeira na Casa. O governador Teotônio Vilela Filho espera usar a cadeira de Tenório para angariar aliados. Já o senador Jefferson Praia (PDT-AM), que assumiu mandato após a morte de Jefferson Péres, luta para permanecer na Casa. Ele aguarda a movimentação do atual governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), para definir sua candidatura. Braga planeja ser candidato ao Senado. A disputa pode ficar ainda mais concorrida se a deputada Vanessa Graziotin (PCdoB) decidir tentar uma vaga de senadora. Assim como Jefferson Praia sonha permanecer por ali, outros 34 que terminam o mandato têm a mesma meta. Sinal de que ser senador não deve ser tão ruim.