Título: Calçadistas investem no Nordeste para exportar
Autor: Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2004, Empresas, p. B-7

Tradicionalmente forte no Sul e Sudeste, o setor calçadista nacional descobriu na região Nordeste condições de produzir com qualidade e competitividade. A presença de empresas na região alavancou negócios, gerou empregos e inseriu diversos estados no ranking nacional dos maiores produtores e exportadores de calçados. Os estados do Ceará e Bahia receberam, nos últimos dez anos, investimentos que somam mais de R$ 1,2 bilhão. Na Paraíba, outro importante pólo calçadista, o governo estadual começa a implantar uma área inteiramente dedicada ao setor coureiro-calçadista, que responde por 32% da pauta de exportações estadual. "Instalar uma unidade no Nordeste facilita a logística, uma vez que existe uma maior aproximação de um grande mercado consumidor. Este fator associado a uma série de incentivos fiscais é o que tem atraído várias empresas para a região", conta o presidente da Azaléia, Antônio Brito. Segundo ele, embora as empresas já instaladas no Sul e Sudeste não pensem em transferir integralmente sua produção para o Nordeste - uma vez que nas regiões tradicionais as cadeias produtivas já se encontram totalmente amadurecidas - o Nordeste desponta como uma grande alternativa. Somente a Azaléia já investiu R$ 180 milhões em um complexo composto por 18 fábricas espalhadas por 14 municípios baianos. A experiência deu certo e a empresa agora está prestes a realizar um novo investimento de grande porte, desta vez em Sergipe, tão logo o governo estadual conclua as instalação da infra-estrutura necessária ao empreendimento. Foto: Ricardo Padue/Valor

Kohlrausch, presidente da Calçados Bibi, exporta 20% dos 1,8 milhão de pares de sapatos produzidos na Bahia

Com uma produção que varia entre 32 milhões e 35 milhões de pares de calçados por ano, o complexo baiano responde por cerca de 50% da produção e do faturamento da indústria gaúcha, que foi de aproximadamente R$ 800 milhões em 2003. Em relação as exportações, cerca de 25% são originárias do Nordeste. O presidente da Calçados Bibi, Marlin Kohlrausch, diz que a implantação de uma fábrica no Nordeste, em 1998, facilitou a logística de distribuição no mercado interno. "O incentivo fiscal também deu uma vantagem competitiva", reconhece. A fábrica, também localizada na Bahia, produz 1,8 milhão de pares de calçados por ano. Deste total, cerca de 20% seguem para o mercado internacional. Para este ano, a indústria espera um faturamento em torno de R$ 93 milhões. Em abril, a Bibi concluiu um investimento de R$ 2,5 milhões destinado a ampliar sua unidade industrial naquele estado. Segundo Kohlrausch, o Nordeste vem registrado um crescimento acima da média nacional nos últimos anos, o que justifica os investimentos feitos não apenas pela Bibi mas por várias outras empresas do setor. Kohlrausch avalia que os investimentos feitos fora do tradicional eixo calçadista promovem uma desconcentração da renda além de gerar empregos em regiões mais pobres, como o Nordeste. O pólo calçadista cearense começou a tomar forma há cerca de dez anos. Desde então os investimentos realizados pelo setor somam R$ 642 milhões. O resultado dessa massa de investimentos e da importância da atividade é facilmente visualizado nas exportações. Cerca de 25% dos US$ 761 milhões exportados pelo Ceará, em todo o ano de 2003, estão ligados diretamente à produção de calçados. Na Bahia, os investimentos já aplicados somam R$ 566,9 milhões. No ano passado, as empresas calçadistas instaladas na Bahia exportaram US$ 27,8 milhões, um crescimento de 66,4% em relação ao exercício anterior. Em comparação aos principais estados exportadores de calçados, a Bahia ficou atrás apenas do Rio Grande do Sul, Ceará, São Paulo e Paraíba.