Título: Indústria rastreia mercados para as máquinas agrícolas
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2004, Empresas, p. B-10

O setor de máquinas agrícolas começa a rastrear mercados potenciais para tentar sustentar as vendas no país, diante do quadro de desaceleração nas encomendas por parte dos produtores, desestimulados pela alta dos insumos e recuo nos preços dos grãos, especialmente soja. Segundo Persio Luiz Pastre, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as áreas de cana, café e laranja despontam como saídas para ampliar as vendas internas de tratores. Segundo cálculos do Valor Data baseados nas cotações dos contratos de segunda posição negociados na bolsa de Nova York, açúcar, café e suco de laranja acumulam altas de janeiro a setembro de 36,73%, 22,02% e 16,05%, respectivamente. Em outubro, até o dia 20, o suco subia 6,99%, para 87,31 centavos de dólar por libra-peso; o açúcar, 5,22%, para 9,13 centavos de dólar; mas o café recuava 0,43%, para 78,91 centavos de dólar. "É provável que São Paulo aumente sua participação no próximo ano, já que o Estado concentra as três culturas", afirmou Pastre. Conforme a Anfavea, nos últimos 12 meses São Paulo liderou as compras de tratores e absorveu 22% das vendas, seguido por Paraná (18%), Rio Grande do Sul (16%) e Mato Grosso (11%). No segmento de colheitadeiras, o Paraná (maior produtor de grãos do país) liderou com 24% das vendas, seguido por Mato Grosso (22%), Rio Grande do Sul (19%) e Goiás (10%). Pastre disse que a queda dos preços da soja tem desestimulado as vendas de máquinas e que, embora haja recursos do Moderfrota disponíveis, a procura tem sido mais lenta. Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), até 11 de outubro foram liberados R$ 520,6 milhões, ou 9,4% do do total disponibilizado para a safra 2004/05.

A Anfavea não tem previsão fechada para 2005, mas estima para o mercado interno estabilidade ou pequeno crescimento. Em 2004, a entidade projeta vendas entre 38 mil e 38,5 mil unidades, o que significa aumento de no máximo 1% sobre 2003. Até setembro, foram vendidas 30,1 mil unidades, 0,8% mais que no mesmo período do ano passado. Nelson Martin, diretor do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria de Agricultura de São Paulo, acha difícil que o setor de máquinas cumpra tais metas. "Além da perspectiva de preços e rendimento menores em 2005, os produtores têm que pagar as dívidas firmadas. O cenário para máquinas é de estagnação à queda". Martin observou que os preços do café começam a recuar com as previsões de safra cheia no Vietnã e no Brasil. No caso do suco, lembrou, a quebra na produção de laranja da Flórida por conta dos furacões ainda não trouxe efeitos ao Brasil. "Dos três setores, só a cana tem possibilidade real de expansão em 2005". A MSConsult projeta para o próximo ano redução na receita do setor de café de 19%, para US$ 2,1 bilhões, e de 4,5% na área de suco, para US$ 2,1 bilhões. Para a cana, a previsão é de manutenção da rentabilidade em US$ 1,4 bilhão. Fábio Silveira, sócio-diretor da consultoria, disse que apenas as exportações de máquinas agrícolas devem seguir ditando o ritmo de produção no Brasil. Pastre disse, ainda, que as exportações de máquinas, que subiram 55,5% até setembro puxadas por Mercosul e EUA, devem crescer em 2005, mas em ritmo mais lento, já que a desaceleração do agronegócio é mundial. Ele observou que o Brasil é competitivo e que pode elevar sua fatia no mercado externo, hoje de 5%.