Título: Senadores rechaçam conspiração
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2005, Política, p. A7

O discurso governista de que a oposição tem intenções desestabilizadoras em meio à crise política começa a incomodar setores do próprio PT. Petistas foram ontem à tribuna do Senado manifestar publicamente a discordância com a intenção do Executivo de imputar ao PSDB e PFL a responsabilidade pela amplitude da crise política, assim como alertaram para o uso político dos movimentos sociais. "Vamos parar com essa história de que as elites não assimilaram a eleição de um presidente que veio do povo, da classe trabalhadora. Vamos parar com esse argumento", disse o senador Flávio Arns (PT-PR). O petista propôs que o governo desanuvie o ambiente e dê prosseguimento a todas as investigações sem alarde. "Nos últimos dias, nosso governo e nosso partido têm criado ficções sociais. O pior erro é achar que os equívocos são cometidos pelos outros, e não por nós mesmos. São nossos os equívocos. Não é a oposição que os cria por nós", emendou o senador Cristovam Buarque (PT-DF), também na tribuna. Oposicionistas classificaram de grave a estratégia. "É como se o governo estivesse preparando uma grande mobilização dessas organizações sociais para um confronto político a la Chávez (Hugo Chávez, presidente da Venezuela)", criticou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). O tucano considera que a tese de desestabilização montada pelo governo acirra o clima social e aumenta a instabilidade. "Junta o clima de corrupção com o clima de instabilidade e, no fundo, estão querendo montar um chavismo aqui", acrescentou Tasso. Em conversas duras de líderes partidários, ontem, a oposição cobrou um reconhecimento público de governistas de que setores do PSDB e PFL rejeitam a tese do golpismo e têm mantido o diálogo com aliados do presidente Lula em prol da governabilidade. Foi a segunda vez que o assunto surgiu numa reunião de líderes de forma aberta. De acordo com parlamentares, até o presidente do Senado, Renan Calheiros, criticou a estratégia do governo para minimizar os efeitos da crise política. Na reunião de ontem, os líderes discutiam a instalação de novas comissões parlamentares de inquérito (CPIs) no Senado. O líder no governo na Casa, Aloizio Mercadante (PT-SP), tinha selecionado um discurso feito em maio de 2001 pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), quando exercia a liderança de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, para rebater a necessidade de instalação de tantas CPIs. Antes que isso ocorresse, os próprios oposicionistas reconheceram que é inviável politicamente manter tantas comissões em funcionamento. Na tribuna, o líder do governo fez elogios ao comportamento da oposição, especialmente ao de Arthur Virgílio. No discurso feito há quatro anos, Virgílio criticava o excesso de denuncismo contra o governo Fernando Henrique Cardoso. Pedidos sucessivos de CPI, enfatizava, levariam à ingovernabilidade e ao caos administrativo. Arthur Virgílio disse que não retira uma só palavra de seu discurso passado. "Tentei, na época, advertir sobre o denuncismo. Não dá para dizer agora que são denúncias vazias as que estão ai. Espero que essa crise não ameace a governabilidade. É possível manter um diálogo construtivo com os nossos adversários, mesmo nos momentos mais duros", defendeu o líder do PSDB. Ele considerou um avanço os petistas reconhecerem publicamente que a oposição é democrática. O senador Mercadante rebateu a crítica dos tucanos de que a aproximação de Lula com os movimentos sociais repete um perigoso estilo populista de Chávez. "Essa tese do chavismo, que vem desde a campanha eleitoral, agora está sendo reeditada. O presidente tem o apoio de entidades populares e da sociedade civil, e isso mostra o amadurecimento da sociedade, e a confiança que a sociedade tem no governo", justificou o petista.