Título: Lula recua de tese golpista em discurso conciliador
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2005, Política, p. A7

Crise Presidente diz que corrupção é o "pesadelo" dos governantes

Em pronunciamento à Nação, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou mostrar que o governo não está parado no combate à corrupção e que as investigações tanto da Polícia Federal como da CPI saberão "separar o joio do trigo". Assim que começou a falar, observou que o assunto que ele tinha a tratar era muito sério e classificou a corrupção como o "câncer" que corrói o país, um "pesadelo" para os governantes e uma "grande vergonha" para o povo brasileiro. Lula salientou que o corrupto deve ser sempre punido de forma exemplar, seja ele quem for, adversário ou aliado, e que o governo não tem "jogado a sujeira para debaixo do tapete". "Com uma investigação profunda, como a que está sendo feita pela Polícia Federal, e agora reforçada pela CPI, logo, logo, para o bem do Brasil, saberá separar o joio do trigo, o bem do mal, a verdade da mentira, e garanto a vocês: se houver gente que tenha cometido desvios de conduta, usarei toda a força da lei." Para enfatizar que não deixará a economia ser afetada pela crise política, Lula reiterou que o governo continuará lutando para que o desenvolvimento econômico seja sustentável e duradouro. "Não há nada que vá me demover deste caminho. Tenho apenas dois anos e meio de governo, e durante esse pouco espaço de tempo, muita coisa já mudou neste país", afirmou, listando o fato de que a economia está em ordem, as exportações continuam crescendo, o risco-Brasil continua caindo, além do comércio e indústria continuarem empregando. Em rede nacional de rádio e televisão, o presidente evitou a tese da conspiração das elites levantada pelo PT, e não atacou a oposição, como fez no início da semana, quando avaliou que os opositores estavam com medo da sua reeleição. No lugar do ataque, comparou o combate à corrupção ao trabalho de limpeza de uma casa que está suja há muito tempo. "Quando você começa a limpar, o que mais aparece é lixo: atrás da porta, debaixo dos móveis, dentro dos armários." O pronunciamento foi um recurso adotado pelo governo para tentar minimizar os efeitos da crise política, que só tem se agravado desde que o presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson (RJ) denunciou o suposto pagamento pela cúpula do PT de uma mesada a parlamentares do PP e PL. Para a população, Lula fez questão de dizer que se tem um governo implacável no combate à corrupção é o dele, que as pessoas podem ter a "falsa impressão" de que a corrupção tem aumentado porque, na verdade, o que aumentou foi o combate ao desvio de dinheiro público. "Nunca o Brasil viu tanta gente importante e poderosa sendo presa por corrupção e por fraude contra os cofres públicos como agora." Segundo o presidente, em dois anos e meio de governo, já foram presas 1.006 pessoas acusadas de corrupção. "Na verdade, nunca a Polícia Federal foi tão livre, ágil e eficiente como agora." Observando que o Brasil tem maturidade para corrigir seus próprios erros, o presidente ressaltou que "feliz do país" que tem uma imprensa livre e democrática que fiscaliza e investiga tudo. "Sou daqueles que acreditam que a verdade sempre prevalece, mais cedo ou mais tarde." Ao fim dos dez minutos de pronunciamento, voltou a pedir para o Congresso continuar trabalhando durante as investigações. E ressaltou que o que faz um ser humano honesto é o seu caráter, e não o poder político recebido numa eleição. "Esse é absolutamente passageiro."