Título: Clinton elogia políticas sociais brasileiras
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2005, Política, p. A7

O ex-presidente dos EUA Bill Clinton elogiou ontem políticas sociais brasileiras como o Bolsa-Escola e o programa de distribuição gratuita de remédios para portadores de HIV, afirmando serem exemplos que podem ser copiados por outros países. Ele falou em tom positivo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - sob cuja gestão se iniciaram os dois programas - e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Clinton, Lula busca fazer algo que poderá ser seguido pelo mundo todo - combinar responsabilidade e disciplina econômica com justiça social. Ele participou, em São Paulo, de seminário promovido pela Cambridge Leadership Associates, onde ressaltou a importância de se renovarem os esforços para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e criticou indiretamente a política externa de George W. Bush. Pela manhã, autografou exemplares de seu livro "Minha Vida" numa livraria. Clinton fez vários elogios ao Brasil, "uma fonte incrível de excelentes idéias", embora tenha destacado a necessidade de atenção especial às crianças que vivem em favelas, oferecendo educação e outras oportunidades. Disse que o Brasil vai liderar o mundo "de um modo ou de outro" no século 21. Para ele, se o país der atenção "a todos" e mantiver a capacidade de "constante renovação", este século será um período "próspero, progressista e pacífico", como o mundo nunca viu. Com isso, acrescentou, "os reveses dos últimos dois meses" deverão ficar pelo caminho. Ele não explicou a quais contratempos se referia - não ficou claro, por exemplo, se falava da crise política. Clinton destacou os resultados das políticas sociais brasileiras, citando-as como exemplos para outros países. Devido a iniciativas como o Bolsa-Escola, 98% das crianças em idade escolar estão matriculadas no ensino fundamental, afirmou ele. Clinton lembrou que, ao distribuir medicamentos contra a Aids para 100% dos portadores de HIV, o número de mortes caiu pela metade em dois anos. Quando elogiou Lula, disse que o brasileiro tenta compatibilizar responsabilidade econômica com justiça social, combinação vista por ele como ideal. Clinton também aproveitou para fazer críticas ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Segundo ele, Chávez faz uma política nacionalista e populista, beneficiando-se do fato de o barril do petróleo estar em US$ 60, uma alternativa disponível para poucos países. Em sua palestra, criticou indiretamente a política de Bush em relação ao Iraque, ao dizer que não se pode abordar outros países apenas com uma política de segurança. Segundo ele, "se você acredita que nós vivemos num mundo interdependente e que fronteiras abertas são inevitáveis como precondição para construir um certo tipo de prosperidade, não é possível matar, aprisionar ou ocupar todos os seus adversários". Clinton defendeu uma estratégia de menos confronto, para que se tenha "mais amigos e menos inimigos". Perdoar a dívida externa de países pobres ajudaria nesse sentido. Clinton afirmou que o mundo vive uma era da interdependência, e insistiu na importância de se caminhar para a integração nacional e global. Ele destacou, porém, que a idéia da integração perde espaço hoje em muitos países, lembrando que França e Holanda rejeitaram há algumas semanas, em referendo, a Constituição Européia.