Título: Valério diz ter provas contra Jefferson
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2005, Política, p. A8

O publicitário mineiro Marcos Valério de Souza foi apresentado aos políticos petistas pelo deputado federal Virgílio Guimarães (PT), seu amigo de infância e conterrâneo. Ambos nasceram em Curvelo, no interior de Minas. Mas nunca ouviu falar sobre o esquema de mensalão antes da entrevista do deputado federal Roberto Jefferson (PTB). Os esclarecimentos foram prestados ontem pelo publicitário, por escrito, em resposta a um ofício do procurador geral da República, Cláudio Fonteles. Marcos Valério respondeu cinco perguntas formuladas pelo procurador e colocou à disposição da Justiça seu sigilo bancário, fiscal e telefônico. Na resposta à primeira pergunta, sobre ter conhecimento do esquema, o publicitário negou qualquer participação e acrescentou que jamais entregou dinheiro para deputado, nem mesmo para Roberto Jefferson. Ele garantiu que não conhecia o petebista em 2004 e que só foi apresentado a ele neste ano, na sede do Partido dos Trabalhadores em Brasília. O publicitário afirmou também que não estava no país na época em que o presidente licenciado do PTB diz ter recebido R$ 4 milhões do PT e que reuniu provas das suas viagens. Na última pergunta, sobre outros esclarecimentos que gostaria de fazer, Marcos Valério reiterou que só tomou conhecimento das denúncias pelos jornais, depois da entrevista de Roberto Jefferson. Mais uma vez, afirmou que as declarações da sua ex-secretária, Fernanda Karina Somaggio, são falsas e refletem o desespero da moça, que está sendo processada por ele por extorsão. A resposta ao ofício da Procuradoria Geral da República foi protocolada no fim da tarde de ontem em Belo Horizonte, onde Fonteles esteve para receber a Medalha da Inconfidência, condecoração distribuída pelo governo do Estado. O advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva informou que o publicitário se colocou à disposição para ser ouvido quando e onde o procurador determinar. À noite, Marcos Valério deu a primeira entrevista depois das acusações de Roberto Jefferson e falou ao "Jornal Nacional", da Rede Globo. Segundo ele, o deputado petebista queria atingir o governo federal, precisava de um "estopim" e o escolheu. O publicitário disse é amigo de petistas como Delúbio Soares e Sílvio Pereira, mas não do ex-ministro José Dirceu com quem nunca falou ao celular como afirma sua ex-secretária. Em Belo Horizonte, agentes da Polícia Federal apreenderam ontem documentos e um computador que estavam na empresa Prata e Castro Associados, escritório de contabilidade que presta serviços para o publicitário e para a agência de publicidade SMP&B. Antes os agentes estiveram em busca de documentos que comprovem relação com o suposto esquema de mensalão também na sede da agência e no escritório de advocacia que atende Marcos Valério. A secretária Fernanda Karina, umas das principais testemunhas do suposto esquema, assinou ontem termo de compromisso para não dar mais nenhuma entrevista sobre o assunto. Ela foi obrigada a assinar o termo depois de pedir para ser incluída no programa federal de proteção a testemunhas. Ela prestou novo depoimento, desta vez ao procurador Luiz Fernando Viana, do Ministério Público Federal. O depoimento durou três horas.