Título: Dirceu nega conhecer esquema do mensalão
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2005, Política, p. A8

Crise Ex-ministro diz que só soube de denúncia em reportagem de 2004

Num curto depoimento de aproximadamente 40 minutos, a portas fechadas, na Corregedoria da Câmara, o deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República, negou qualquer relação com o suposto esquema de pagamento mensal de R$ 30 mil a parlamentares do PP e PL em troca de votos favoráveis ao governo. Dirceu disse que só tomou conhecimento da denúncia do mensalão em setembro de 2004, por reportagem publicada no "Jornal do Brasil". O ex-ministro negou também todas as versões apresentada pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), que o apontou como formulador do esquema. Dirceu somente admitiu que conhece Marcos Valério, sócio das agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda, que segundo o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) tem ligações próximas com o PT e seria o "operador" do mensalão. Nas entrevistas que concedeu e em seu depoimento público ao Conselho de Ética, Jefferson contou que comentou com José Dirceu sobre os rumores da existência do mensalão no Congresso. O comentário teria sido feito numa reunião entre os dois no Palácio do Planalto. O petebista disse ainda que o então ministro chegou a dar um soco na mesa e a reagir com indignação, pois teria ordenado ao presidente nacional do PT, José Genoino, e ao tesoureiro do partido, Delúbio Soares, que não colocassem em prática tal esquema. Dirceu negou toda a versão. O ex-ministro também disse que jamais homologou um acordo eleitoral com o PTB nas eleições passadas, que implicava transferência de recursos. "Eu respondi prontamente a tudo", limitou-se a comentar o ex-ministro, ao sair da Corregedoria. Logo após o depoimento, Dirceu foi para a liderança do governo na Câmara. No plenário, ficou ao lado do presidente da Casa, Severino Cavalcanti, durante a votação de uma medida provisória. O ex-ministro disse que não revelaria à imprensa detalhes de seu depoimento à Corregedoria porque a quebra do sigilo poderia levar à nulidade das investigações. Dirceu pode prestar depoimento aberto ao Conselho de Ética na próxima semana. "Não pensei nisso ainda", disse ele, quando indagado sobre a data do depoimento. O corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), disse que Dirceu respondeu prontamente a todos os questionamentos dos parlamentares. A Corregedoria deve ouvir na próxima semana os ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Walfrido Mares Guia (Turismo), e Genoino. Rebelo e Walfrido estão na relação de ministros a quem Jefferson teria comunicado a existência do mensalão.