Título: Espaço para crescimento divide analistas
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2005, Especial, p. A12

A manutenção de 4,5% como meta de inflação para 2007 ampliou, na prática, o espaço de atuação da política monetária do Banco Central, pois esse já é o percentual que será perseguido em 2006. Apesar do ganho da margem de manobra, os economistas divergem sobre o crescimento da economia. Para alguns, o problema está no próprio sistema de metas de inflação e na forma rígida como ele é conduzido pelo BC. Para outros, o regime cambial está equivocado. Outros, ainda, cobram mudanças na política fiscal. Na média, as projeções para o crescimento econômico nos próximos dois anos variam de 3% a 3,5%. José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados, diz que o Brasil continuará "marcando passo" e deve crescer 3% nos próximos anos. O percentual é superior à média de 2,4% da última década, mas inferior aos 4% de expansão mundial. Com o BC trabalhando com metas de inflação de 4,5% para 2006 e 2007, ele diz que a queda na taxa de juros será lenta. As incertezas provocadas pela crise política, que pode se estender até as eleições presidenciais, também colaborarão para um crescimento menos vigoroso. Ele admite que 4,5% de inflação é compatível com "alguma" baixa na taxa de juros. "Como é para 2007, essa meta é menos assustadora que no passado", diz. A menos que ocorra um forte aumento dos preços do petróleo, a inflação deve ficar entre 5% e 5,5% em 2006. Um ponto a favor é o fato de que os IGPs, indicadores que balizam o reajuste das tarifas públicas - e respondem por um terço da inflação - serão menores e irão pressionar menos os preços ao consumidor. Esses indicadores estão sendo favorecidos pelo câmbio valorizado e pela queda das commodities no mercado internacional. Mendonça de Barros pondera, porém, que o investimento não vai responder instantaneamente, mesmo que o BC corte os juros e desvalorize um pouco o real. Por conta da alta do dólar, da queda das commodities e da crise política, as empresas estão postergando investimentos, alerta. "O país cresce 5% e depois volta. Não superamos o dilema de como passar para o andar de cima". Para o professor da Unicamp, Luiz Gonzaga Beluzzo, os planos do governo de obter superávit nominal (saldo positivo nas contas públicas após as despesas com juros) não garantirá o sucesso da economia. Ele aposta que o Brasil deve crescer entre 2,5% e 3% nos próximos anos e defende que há uma armadilha nessa estratégia: o câmbio. Ao obter um superávit nominal nas contas públicas, o Brasil terá mais espaço para cortar os juros, o que pode provocar uma valorização do real. "O câmbio pressionará uma parcela dos preços internos, que acabam dolarizados já que muitas empresas contam com a alternativa de exportar", diz. Para Beluzzo, não é possível mensurar o tamanho do contágio da economia e a queda dos preços das commodities pode aliviar o impacto. "Só que mesmo nas expectativas favoráveis, a meta é justa". Para Darwin Dib, economista-sênior do Unibanco, o que torna o regime de de metas pouco flexível não é a fixação da meta em um patamar baixo, mas sim o fato dela ter de ser atingida ao longo no ano calendário e não durante 12 ou 18 meses, por exemplo. "A convergência da inflação corrente para a meta estabelecida se dá em uma perspectiva longa, pois os preços refletem de maneira defasada o aperto da política monetária", argumenta. Tanto Dib como João Carlos Gomes, analista da Federação do Comércio do Rio de Janeiro, acreditam que a meta de 4,5% de inflação para os próximos dois anos não é apertada. Eles explicam que 2006 já começará com uma inércia inflacionária menor do que a vista nos últimos anos, por conta dos IGPs mais baixos. "A meta de inflação estabelecida e a política monetária atual não são empecilho para o crescimento do país", sustenta Edward Amadeo, sócio da Tendências. Para ele, são outros os fatores que impedem o Brasil de crescer de forma sustentada a taxas acima de 3% ou 3,5%, como um regime fiscal equivocado - carga tributária alta e gastos elevados do governo com consumo e transferências, o que resulta em baixo nível de poupança. Na análise de Amadeo, Dib e Gomes, uma inflação de 4,5% não é restritiva ao crescimento, porque o Brasil não tem condições de crescer de forma sustentada se não tiver seus preços controlados em patamares baixos. "Com a estrutura que temos hoje em dia, até podemos progredir com sustentabilidade, mas esse crescimento não deve passar de 3% ou 3,5%", completa Amadeo. A perspectiva de juros mais baixos no começo do ano também não indica que a inflação sairá do controle. Por mais que a demanda se aqueça, Gomes, da Fecomercio, afirma que muitos setores ainda tem capacidade ociosa e podem expandir a produção sem a necessidade de reajustar preços. Por outro lado, ele prevê que com juros menores, o setor produtivo investirá na compra de equipamentos e ampliará a capacidade de produção. Para Fernando Montero, economista-chefe da Corretora Convenção, a meta de inflação para 2007 é a mais alta possível, já que a 2006 está em igual patamar. "Seria um sinal ruim demonstrar afrouxamento do regime", diz. Ele não concorda que o câmbio impulsionará a inflação. Na sua opinião, o ajuste fiscal diminuirá os gastos do governo e haverá mais espaço para o aumento da demanda externa, que virá com o crescimento das exportações, sem provocar alta de preços. O regime de metas de inflação foi instituído no Brasil em 21 de junho de 1999, através da publicação de um decreto, que estabeleceu esse sistema como diretriz para o regime de política monetária. Por meio desse documento ficou estabelecido que o Conselho Monetário Nacional (CMN) tem que, até o dia 30 de junho de cada ano, fixar as metas de inflação para os dois anos seguintes.