Título: Gravata nacional sofre pressão chinesa
Autor: Vanessa Barone
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2005, Empresas &, p. B5

Moda Para fabricantes brasileiros, é mais vantajoso importar os modelos populares do que produzir localmente

Acessório masculino, por excelência, a gravata é talvez um dos itens do vestuário que mais sofre com a concorrência dos artigos importados. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil importou, em 2004, US$ 1 milhão em gravatas da China e US$ 970 mil da Itália. Não há dados exatos sobre a produção interna, mas a julgar pelo número de empresas que ainda se dedicam a fazer gravatas, ela é pequena. "Imagino que essa produção não passe de 300 mil peças, por mês", avalia Jorge Nassim Jr., sócio-diretor da Spring, confecção de São Paulo, especializada em gravatas, com mais de 60 anos de mercado. Além da Spring, segundo Nassim, apenas mais duas empresas atuam no segmento, com uma produção significativa: a Gravatas Voga, de São Paulo, e a Di Marsi, do Rio de Janeiro. "Muitas empresas fecharam", diz Nassim. As três importam a seda da Itália e montam as gravatas no Brasil. De janeiro a abril de 2005, o Brasil importou 5,5 toneladas de seda, com aumento de 14% em relação ao mesmo período do ano passado. Voga e Spring também importam gravatas de poliéster prontas da China, para revender a varejistas populares. "As últimas fábricas que faziam seda para gravataria fecharam há mais de 20 anos", diz Nassim. "Não havia financiamento". A confecção da gravata é trabalhosa. "É tudo feito manualmente", explica Rubens Cohen, diretor da Gravatas Voga, no mercado desde 1942. Na linha de montagem da Voga trabalham 30 pessoas. "As gravatas importadas são costuradas à máquina", diz o empresário. "A produção artesanal é o nosso diferencial". Quase 95% da produção da Voga é de gravatas de jacquard de seda, tidas como as mais sofisticadas e que chegam ao consumidor final custando entre R$ 100 e R$ 150. O restante, é de peças de seda estampada, uma espécie de degrau inferior no padrão de qualidade da gravataria tradicional. "A Hermès faz gravatas de seda estampada, mas ela é uma grife de luxo", diz Cohen. Para sobreviver no mercado, tanto a Voga quanto a Spring acabam atuando em todos os segmentos: com gravatas para as classes A, B, e C. Essa última, consome gravatas de poliéster, com preço final entre R$ 25 a R$ 39, e são importadas, prontas, da China. "É mais barato que comprar o tecido e produzir", diz Cohen. Outro ponto em comum, é que as três empresas fazem gravatas com marca própria e também investem em private label (confecção para a marca do cliente). "VR e Richards são nosso clientes", diz Cohen, que não revela sua produção, nem faturamento. No caso da Spring, cerca de 60% da produção de gravatas de seda e 30% das de poliéster, é destinada ao private label. As marcas próprias da Spring, vendidas em mais de 5 mil lojas multimarcas do Brasil, são Coordinati (de poliéster) e Cravaterie Internazionali (de seda). Essa última, foi a marca da gravata usada pelo presidente Lula, no dia da posse. "Ele tem muito bom gosto", diz Nassim. O volume mensal de produção da Spring, juntando todos os produtos, é de 100 mil gravatas. Número que o empresário acredita que seja também o da produção de seus concorrentes. Como acessório de vestuário, as gravatas também seguem a moda. Os modelos para a próxima estação, apresentados durante o Salão de Moda Masculina, que terminou ontem, em São Paulo, são de tons claros e vivos de rosa, azul, verde-maçã e laranja. "As listras continuam em alta, mas as lisas de seda jacquard, ainda são muito procuradas pelos homens", diz Cohen, da Voga. Para Nassim, da Spring, a gravata de seda estampada (foulard, no jargão do setor) começa a ganhar terreno sobre a de seda jacquard. "É uma tendência forte, lá fora, que está chegando no Brasil", informa o empresário. "As peças com estampas grandes gráficas são a grande novidade". A origem da gravata remete à corte de Luís XIV, o Rei Sol. O monarca francês viu o lenço de cambraia usado pelos soldados croatas ao redor do pescoço e gostou. Começou a usar e lançou a moda.